As cinco cooperativas agrícolas que atuam com produção e beneficiamento de arroz em Santa Catarina dão os primeiros passos para uma união das suas áreas de comercialização e logística. Cooperja, Coopersulca, Cravil, Juriti e Copagro estão desenvolvendo estudos para atuar em parceria no nordeste brasileiro, o principal mercado consumidor de arroz do País e hoje o maior comprador da produção das catarinenses.
“É uma forma de juntarmos forças para ter maior participação de mercado. A saída para sobreviver é a união”, diz Ademar De Costa, gestor de negócios da Coopersulca, produtora do arroz Fazenda, referindo-se a operações de fusão em diferentes setores, como carnes.
A possível associação entre as cooperativas tem a intenção de reduzir custos sobretudo no envio do grão produzido para o nordeste, substituindo o transporte de caminhões pela cabotagem. Com mais volume, elas conseguem encher os navios e ter preços melhores nos fretes. Além disso, há conversas para a construção de um centro de distribuição em um dos Estados nordestinos para melhorar a rapidez na distribuição.
A Organização das Cooperativas de Santa Catarina (Ocesc) confirmou os estudos e está coordenando as discussões sobre o assunto. Marcos Zordan, diretor da Coopercentral Aurora e presidente da Ocesc, disse que prefere se pronunciar apenas após os resultados dos trabalhos de uma consultoria, que está sendo contratada. Ela dará embasamento para concretizar ou não as ações em análise.
Vanir Zanatta, presidente da Cooperja, em Jacinto Machado, entende que a união pode dar condições de as cooperativas brigarem por mais espaço no mercado. “Temos dificuldade de concorrer em preços no nordeste com as grandes empresas, que tem operações de maior escala. Se não nos juntarmos, ficaremos pelo caminho”.
A discussão de uma possível união de parte das operações ocorre ao mesmo tempo em que o mercado de arroz apresenta baixos preços. O valor ao produtor de arroz irrigado em Santa Catarina pela saca de 50 quilos caiu 16% em setembro frente a igual mês do ano passado, passando de R$ 32,46 para R$ 27,21, segundo dados mais recentes da Epagri/Instituto Cepa, empresa de pesquisa estadual.
A união, no entanto, não estaria vinculada apenas à conjuntura de curto prazo do setor e pode não se restringir às operações do nordeste. De acordo com as cooperativas, a intercooperação pode começar pela comercialização nesta região, mas também avançar para um projeto maior. Elas já colocaram em discussão uma união para vendas externas na África do Sul e Angola bem como, futuramente, até mesmo a atuação sob uma única marca, ainda a ser definida. Hoje, cada uma das cinco cooperativas mantém sua própria operação de comercialização, logística e marca no País independente das demais.
Para o presidente da Copagro, de Tubarão, Dionísio Bressan Lemos, já se trata de uma “necessidade” das cooperativas a “otimização da estrutura” para conseguir ganhos de escala. “Queremos estar em condições (de competição) iguais ou melhores do que os grandes grupos”, afirma Lemos.
As cinco cooperativas de arroz teriam, juntas, produção de cerca de 360 mil toneladas/ano. Com esse volume estariam disputando de forma mais próxima a liderança do mercado com as gigantes do setor: Camil e grupo Josapar.
Para representantes das cooperativas, não há entre as cinco nenhuma em situação financeira muito difícil, à beira de quebrar, que motive a união, mas a rentabilidade, em geral, tem sido baixa.
Santa Catarina é o segundo maior Estado produtor de arroz do País, atrás do Rio Grande do Sul, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Produz cerca de 1 milhão de toneladas de arroz anualmente, sendo mais forte em arroz parbolizado. O Rio Grande do Sul, por sua vez, chega a produzir 7 milhões de toneladas por ano, sendo relevante sua produção de arroz branco.