Redação (19/01/2009)- A situação climática na Argentina vem sendo acompanhada de perto por traders preocupados que a estiagem possa atrapalhar ou encarecer os negócios na região. A prolongada estiagem no país vizinho, que é o maior exportador mundial de óleo e de farelo de soja, abre perspectiva para a ampliação do processamento do grão no Brasil.
A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) está prevendo processamento recorde de soja na safra 2008/2009, com 32,2 milhões de toneladas, quase 700 mil toneladas a mais que o volume observado na temporada anterior e 10,62 milhões de toneladas a mais que o volume processado no início da década.
Na última semana o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) revisou para baixo a safra 2008/2009 de soja na Argentina, para 49,5 milhões de toneladas ante os 50,5 milhões previstos anteriormente. No entanto, o número é contestado por quem acompanha a safra na Argentina. "O prejuízo causado pela seca pode ser muito pior", avaliou Eduardo Serra, climatologista da Bolsa de Cereais de Buenos Aires. Segundo ele, mais de metade da área plantada com soja no país, cerca de 18 milhões de hectares, não receberá quantidade de chuva significativa até o próximo dia 27 "o que pode ser demasiado tarde para os agricultores", afirmou.
Alicia Tomaszuck , coordenadora da Federação Agrária da Argentina, avalia que as consequências econômicas com a seca no país já resultam em "perdas incalculáveis". Ela pede políticas nacionais e obras de prevenção, que sirvam para reverter o déficit hídrico que afeta a região há pelo menos cinco anos. "O produtor quer seguir produzindo e a melhor opção hoje continua sendo a soja já que o girassol é deficiente e não cobre os gastos", destacou.
Os prejuízos com a seca não se refletem apenas na lavoura. A diminuição no nível de água do Rio Paraná já está levando navios a reduzirem o volume transportado e pressionando os preços dos fretes. "Até agora só tivemos problemas isolados com os embarques de óleo de soja, mas se o mau tempo se prolongar, podemos ter problemas com o grão a partir de março", disse Alfredo Sesé, secretário técnico da comissão de transporte da Bolsa de Rosário.
De acordo com Gabriel Pesciallo, analista da Agência Rural, os preços seguem o mercado internacional da soja, portanto, se há quebra de safra a tendência é que o mercado coloque um ágio no preço do grão. "As ultimas altas da CBOT [Bolsa de Chicago] já refletem o clima seco na Argentina", disse.