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Sinais de área menor de milho em 2007/08

<p>Os agricultores brasileiros devem seguir uma rota contrária à dos americanos na safra 2007/08. Cenários traçados por analistas e representantes do setor de grãos apontam redução de pelo menos 2% no plantio de milho e aumento de 5% da área de soja na próxima safra, que no país começa a ser plantada em setembro.</p>

Redação (25/04/07) – Para algodão e trigo, são pessimistas as projeções, baseadas em mudanças nos estoques globais de grãos, no plantio nos EUA, no comportamento dos preços internacionais, no aumento de custos e em rentabilidade. 

Para o milho, a Agroconsult estima redução de pelo menos 2% na área da safra de verão em relação ao ciclo 2006/07, com quedas de 5% no Rio Grande do Sul, 3% no Paraná e de até 20% no Mato Grosso. André Pessôa, sócio-diretor da consultoria, citou como principais fatores de pressão a redução da rentabilidade da cultura e o aumento dos estoques finais brasileiros. A produção total de 2006/07 é estimada em 52,5 milhões de toneladas, com safrinha próxima a 15 milhões. A exportação está projetada em 8 milhões de toneladas em 2007, mas, segundo Pessôa, esse volume dificilmente será alcançado. 

"O Brasil exporta facilmente 5 milhões, para clientes já tradicionais em países como Irã, Coréia do Sul, Espanha e Portugal. Para escoar as outros 3 milhões, terá que concorrer com a Argentina em mercados como Malásia, Indonésia, Chile e Arábia Saudita, baixando preços", disse Pessôa. A Agroconsult prevê para o ano aumento do consumo interno, de 40 milhões de toneladas para 43 milhões, graças à recuperação da avicultura e da suinocultura. "Mesmo assim os estoques ficarão maiores, em 7 milhões de toneladas, o que tende a pressionar os preços, reduzir margens e desestimular o plano na próxima safra", afirmou. 

Pessôa também estimou, em um cenário mais provável, que os EUA atingirão produção de 313 milhões de toneladas de milho, com produtividade média de 9,5 mil quilos por hectare e relação estoque/consumo de 12%, o que deve levar os preços a uma faixa de US$ 4 por bushel. Ele observou que há nos EUA 115 usinas de etanol de milho em operação, que produzem 21,8 bilhões de litros, e que em 20 meses outras 86 usinas começarão a rodar, elevando a produção em mais 24 bilhões de litros. 

Para a soja brasileira, a Agroconsult prevê expansão de até 5% na área plantada em 2007/08, graças à melhora nos preços internacionais e à redução do endividamento dos produtores. A Agência Rural é mais otimista: prevê aumentos entre 5% e 10%. Fernando Muraro, da Agência Rural, observou que os custos dos fertilizantes subiram 30% e há pressão do mercado externo para que o Brasil não plante soja na Amazônia. 

Ao mesmo tempo, a expansão da cana no Triângulo Mineiro, São Paulo e sudoeste do Mato Grosso do Sul "empurra" a soja para as regiões de fronteira do Centro-Oeste. "Se o preço futuro na bolsa de Chicago ficar entre US$ 8 e US$ 9 por bushel, é provável que haja expansão da área em 5%, para 22 milhões de hectares, com produção de até 62 milhões de toneladas", afirmou Muraro. Caso as cotações ultrapassem US$ 9, o plantio poderá aumentar em até 10%. Ele estima que a produção americana ficará em 78 milhões de toneladas na temporada 2007/08, para um consumo de 85 milhões – o que levará à redução da relação estoque/consumo no país dos atuais 20% para 11%. 

"Em 2008/09 os EUA terão que aumentar o plantio de milho em mais 4 milhões de hectares e vão avançar de novo sobre a soja. A tendência é de queda na produção americana, o que vai ajudar a elevar os preços do grão no mercado externo", avaliou Muraro. O contrato para maio de 2008 negociado em Chicago fechou ontem a US$ 7,74 por bushel, o que confirma a curva de valorização. 

Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) também prevê expansão de pelo menos 3% na área de soja no Brasil no próximo ciclo. "O preço tende a melhorar no segundo semestre. Não me surpreenderia se a área aumentasse mais", afirmou. 

Já no setor de algodão, observou João Luiz Pessa, conselheiro da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), os preços vão bem, mas são os insumos que pesam na decisão de plantio. Pessa estima uma redução de 20% na área plantada em 2007/08, porque a lavoura de algodão usa três vezes mais fertilizantes que soja e milho, e os custos dos insumos aumentaram 30%. Para 2006/07, a Abrapa espera produção de 1,4 milhão de toneladas, das quais 900 mil já foram contratadas (sendo 700 mil para exportação). 

O cenário para o trigo ainda é incerto, na avaliação de Francisco Samuel Hosken, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo). Segundo ele, a entrada de farinha argentina a preços 5% mais baixos que a processada no Brasil tem desestimulado a industrialização e pode também desestimular o plantio. Para 2006/07, a previsão é que o país colha 4 milhões de toneladas de trigo, ante 2,3 milhões na safra anterior. "É preciso mudar a política de importações para estimular a cadeia produtiva", disse. 

Edilson Guimarães, secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, confirmou que o governo vislumbra um novo avanço agrícola em 2007/08, principalmente em grãos, açúcar e etanol. O crescimento em receita, no entanto, tende a ser restringido pelos custos com câmbio e logística. Outro fator de preocupação é o alto endividamento, principalmente dos produtores de grãos. Segundo Guimarães, o governo tentará resolver no curto prazo qual será a origem de recursos para o Fundo de Recebíveis do Agronegócio (FRA). Segundo ele, não há disponibilidade de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e as opções são recursos da poupança rural ou da exigibilidade bancária. 

Outro ponto em discussão é a redução da taxa de juros do crédito rural, hoje de 8,75% ao ano. "Ainda não existe uma taxa definida, estamos conversando com o Tesouro, a Fazenda, os bancos. Qualquer número que se fale agora é especulação", afirmou ele. A expectativa é que esses pontos sejam definidos antes do anúncio do Plano de Safra 2007/08, que só deverá ser anunciado em junho, de acordo com Guimarães. Os cenários foram traçados no 6º Seminário Perspectivas para o Agribusiness em 2007 e 2008, promovido pela BM&F ontem em São Paulo.