Redação (13/07/06) – O Paraná é o primeiro estado brasileiro a contar com ajuda de um programa próprio para fornecer informações mais precisas para previsão de colheitas. Utilizado há dois anos, em caráter experimental, o PrevSafras, desenvolvido pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), pretende acabar com a especulação em produtos como o soja. O Brasil está entre os maiores produtores de alimentos no mundo.
O controle sistematizado e o mais seguro possível da previsão de safra é estratégico para tomada de decisões dentro e fora do governo. A avaliação é do engenheiro agrônomo, Rogério Teixeira de Faria, 52, PhD pela Universidade McGill, do Canadá, ao destacar a principal função social do software que será usado ainda no Rio Grande do Sul (RS) e Mato Grosso (MT). Paraná e RS produzem 90% do trigo nacional e os três, respondem por 80% da produção de toda soja brasileira. “São informações científicas que vão ajudar a acabar com a especulação, que é a pior coisa que tem”, ressalta o pesquisador. Teixeira explica que o software deve ser alimentado com dados colhidos pelos técnicos do Departamento de Economia Rural (Deral, órgão ligado à Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento (Seab) e Simepar (Tecnologia e Informações Ambientais).
Para Texeira, o programa aprimora o trabalho técnico. “Hoje é possível medir a quantidade de chuva de determinada região a cada hora”, ressalta o pesquisador, ao apontar as informações meteorológicas a base científica importante do programa. No estado há 40 estações meteorológicas em municípios maiores como Maringá, Paranavaí e Apucarana, que ajudam a alimentar o programa. Uma delas fica em Paranavaí. A idéia, segundo ele, é ganhar credibilidade no Paraná, onde o projeto é piloto para expandir para outros estados já que a implantação do software interessa ainda ao Conselho Nacional de Abastecimento (Conab).
Para ilustrar como o sistema auxilia o trabalho técnico, no campo, o pesquisador conta que na estiagem dos meses de dezembro e janeiro de 2005, foi possível mostrar identificar as regiões onde a situação era mais grave para levantamentos nessas áreas. Agrônomo há 30 anos, o pesquisador afirma que o desenvolvimento do PrevSafras consumiu pelo menos 20 de estudos. “Está pronto há dez anos, mas só foi possível implantá-lo em função do avanço das informações meteorológicas”, disse. O pesquisador garantiu que a nova tecnologia para o campo não substitui o trabalho dos técnicos, por depender deles para fornecer dados precisos e na avaliação dele, agir como “antídoto para a especulação no campo”. Colheita 6% maior, prevê Deral O Departamento de Economia Rural (Deral) estima que o Paraná vai produzir 6% de grãos a mais na safra 2005/2006 do que o volume obtido no ano passado.
Na safra passada, o Estado produziu 22,45 milhões de toneladas. De acordo com os dados obtidos no campo até o dia 19 de junho, o Paraná deverá produzir 23,81 milhões de toneladas de grãos na safra 2005/06. Caso essa estimativa seja confirmada, haverá uma redução de 17,7% frente a um potencial produtivo de 28,93 milhões de toneladas desta safra. Os técnicos do Deral informaram que a safra foi novamente afetada pela seca. A estiagem de novembro e dezembro afetou as culturas de verão. Atualmente, a escassez de água, que atinge o Estado desde março, prejudica as culturas de inverno e safrinha. De acordo com o último levantamento do Deral sobre as perdas financeiras, realizado no mês de março, o Paraná deixaria de faturar R$ 1,57 bilhão frente à expectativa de colheita frustrada.
Segundo a chefe da Divisão de Estatísticas Básicas do Deral, Gilka Cardoso Andretta, foram calculados mais R$ 290 milhões em perdas na agricultura. “Devemos lembrar que essas perdas financeiras estão concentradas, basicamente, na soja, milho, trigo e feijão. Acreditamos que, com uma maior diversificação das propriedades rurais, esses prejuízos poderão ser menores caso ainda tenhamos no futuro situações críticas em decorrência das adversidades climáticas. Com uma propriedade mais diversificada, o produtor tende a ser menos prejudicado frente às intempéries”, destacou. O chefe do Setor de Previsão de Safras do Deral, Dirlei Antonio Manfio, lembrou que, em maio, os números apontavam uma redução de 4,57 milhões de toneladas de grãos.
“Hoje, estimamos uma perda de 5,12 milhões de toneladas em decorrência de uma maior redução do milho safrinha e do trigo. Deral e IBGE forneciam as informações Antes do software anunciado no último dia 4, no aniversário de 34 anos do Iinstituto Agronômico do Paraná (Iapar), O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Departamento de Economia Rural (Deral), eram quem subsidiavam o governo, empresas e outros setores sobre os números da agricultura paranaense. Na avaliação do chefe da Seção de Previsão de Safras do Dirlei Antônio Manfio, o programa é uma ferramenta a mais de informação. “Ele não vai conseguir constatar uma doença que surja na lavoura”, exemplificou para reforçar a importância do trabalho de campo.
Nesta safra de soja, o Deral previu 21% na quebra de safra e o programa indicou 19%; 2% a menos. A diferença parece mínima, mas Manfio assegura ser “representativa”. O trigo é a cultura em estudo no momento. “Toda informação é relevante. Boa parte do trigo consumido no Paraná vem da Argentina”, lembrou Manfio. O mapa da área plantada é a informação mais importante oferecida pelo Deral, para alimentar o PrevSafras. J.C Faep diz que desconhece o PrevSafras Apesar de utilizado há dois anos, com investimentos de R$ 1 milhão, entre pesquisa e salários dos profissionais, o software-piloto no Paraná para previsão de safras ainda não foi apresentado à Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
“Não temos a menor idéia do que seja”, resumiu Carlos Augusto Albuquerque, assessor da diretoria da entidade. Ao avaliar o investimento de R$ 1,5 milhão, o assessor disse que o volume é considerável, porque na agricultura os recursos “são escassos”. Albuquerque disse que todos os instrumentos para previsão de safra são importantes para o produtor, mas apontou necessidades básicas, consideradas essenciais, também carentes de verba. “Precisamos de carros para o trabalho de defesa agropecuária”, disse. Os recursos investidos no programa-piloto equivalem ao valor de 60 carros.
Ao criticar a falta de recursos para áreas fundamentais como a defesa agropecuária, Albuquerque lembrou a perda de R$ 4 milhões por parte do governo do Estado, no início deste mês. A liberação da verba estava condicionada à entrega até o final de junho de um projeto. “Nem sabemos se esse projeto foi feito”, completa. J.C.