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Soja 2005/06

<p>Desvalorização cambial aumenta custos com logística e abocanha lucros do sojicultor mato-grossense.</p>

Da Redação 26/09/2005 – Foi-se o tempo em que cálculos sobre custo de produção eram suficientes para que o sojicultor soubesse de quanto seria seu lucro por cada saca colhida. Para ter a certeza de que as contas vão fechar é preciso levar em conta, mais do que nunca, os custos logísticos em tempo de dólar desvalorizado frente ao real. Pelo levantamento divulgado pela AgRural, com a taxa de câmbio a R$ 2,30, somente para transportar a soja até o porto de Paranaguá (PR), por exemplo, há perdas de US$ 20 por cada tonelada, ou de US$ 1,20 por saca.

Mas a pior notícia não é o custo logístico em si, e sim o desdobramento dele sobre a produção. Levando em consideração o município de Sorriso (460 quilômetros ao Médio Norte de Cuiabá), maior produtor mundial da oleaginosa com cerca de 600 mil hectares (ha) cultivados na safra passada -, serão necessários, para um ponto de equilíbrio, uma produtividade de 61,41 sacas/ha, em uma região que na safra passada obteve rendimento médio de 51 sacas/ha.

“Com o dólar nestas condições, é vital para o produtor fazer o cálculo de paridade de exportação, pois o custo do frete é em reais, mas precisa ser dolarizado, diferente do restante da operação, que é realizado sob a moeda norte-americana. É uma conta que todo produtor deveria aplicar, mas poucos sabem”, alerta o analista de mercado da AgRural, em Cuiabá, Seneri Paludo, enfatizando que a desvalorização afeta mais ainda produtores que estão distantes dos portos, como Sorriso, a cerca de dois mil quilômetros de distância de Paranaguá.

Ele explica ainda que “com a atual taxa de câmbio a produção agrícola sofre efeito duplo, primeiro na própria conversão, quando o produtor ganha menos e depois para arcar com os custos logísticos”, completa.

O cálculo da AgRural para mensurar o impacto do dólar na rentabilidade da soja leva em consideração preços futuros para entrega em maio, inclusive para prêmios em Paranaguá, frete de Sorriso ao porto paranaense, um custo de produção/ha de R$ 1,1 mil obtido pela Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) e três situações de taxa de câmbio, R$ 2,30, R$ 2,60 e R$ 3.

“A taxa atual de câmbio é o grande inimigo”, exclama Paludo.

A MATEMÁTICA – Para o cálculo de paridade a cotação futura de Chicago para maio é de US$ 6 por bushel padrão de medida norte-americano que equivale a 27,216 quilos -, e um prêmio negativo em Paranaguá em 10 pontos, que segundo Paludo é normal para o período de abril e maio, durante a safra. O prêmio sobre o valor do bushel resulta em US$ 5,90, o chamado flat price. O bushel por saca se transforma em US$ 216,77 a tonelada dentro do navio (flat price por tonelada). É neste valor que vão incidir as taxas de câmbio de R$ 2,30, R$ 2,60 e de R$ 3.

Com a cotação a R$ 2,30, o frete de Sorriso a Paranaguá, que em período de safra é de R$ 200, convertido ao dólar custa US$ 86,96. “Aqui está a perda. Há dois anos o frete custava US$ 65 a tonelada e hoje está, em função da atual cotação, em US$ 86,96”, aponta. Descontando o frete, já dolarizado, do valor da tonelada dentro do navio, sobra ao produtor US$ 129,81 pela tonelada, ou US$ 7,79 por saca. Convertendo o lucro do produtor para real, há líquido de R$ 17,91, que para cobrir o custo de produção, R$ 1,1 mil, necessita de um rendimento de 61,41 sacas. Como revela Paludo, no Paraná, por exemplo, as perdas por tonelada são de US$ 4.

Utilizando o mesmo raciocínio mas uma taxa de câmbio de R$ 2,60, o frete custa US$ 76,92, o valor líquido ao produtor por tonelada fica em US$ 139,84, que em sacas se transformam em US$ 8,39, convertidas ao real, R$ 21,82, e demandam 50,42 sacas para o ponto de equilíbrio entre custo de produção e valores de mercado.

O lucro do produtor depende, de fato, de um câmbio a R$ 3, pois com essa cotação o lucro por tonelada (descontado o frete dolarizado) seria de US$ 150,10 por tonelada, ou US$ 9,01 por saca, que na conversão para real somaria R$ 27,02. Neste exemplo, 40,71 sacas/ha seriam o ponto de equilíbrio. Na safra passada, com as perdas em função da seca, o Estado obteve uma média de produtividade de 49 sacas/ha. Com o dólar a R$ 3, o produtor teria cerca de nove sacas por hectare como lucro. Na situação atual, com a necessidade de 61,41 sacas/ha, o produtor contabiliza um prejuízo de cerca de 12 sacas/ha.