Mato Grosso quer (e precisa) mais do que nunca fazer duas grandes safras na próxima temporada, a safra 2012/13, uma de soja e uma de milho. Para dar conta de duas temporadas dentro de um mesmo ano-safra, o sojicultor empreendeu uma busca sem precedentes por semestres de ciclo curto, as precoces, e esvaziou a oferta de muitas variedades que já estão em falta e poderão impor mudanças na estratégia de produção às vésperas do início do plantio da soja, a partir de 16 de setembro.
O estímulo para isso vem do mercado internacional que sinaliza cotações firmes – para o decorrer de 2013 e até para o ano seguinte, no caso da oleaginosa – em decorrência da quebra atual da produção norte-americana das duas culturas afetadas pela maior seca dos últimos 50 anos e pela crescente demanda por grãos, vinda especialmente da China.
Como explica o vice-presidente da Associação dos Produtores de Sementes do Mato Grosso (Aprosmat), Elton Hamer, a oferta de cultivares precoces está cerca de 10% maior em relação ao ano passado, mas ainda assim, não supre a demanda. Como explica, além da conjuntura favorável, o produtor mato-grossense, em especial, está cada vez mais antecipando o plantio de soja para ampliar a segunda safra e fugir da ferrugem asiática, doença fúngica e que traz perdas de produtividade e amplia o custo de produção. A doença se instala mais em lavouras de ciclos médios e tardios. Números sobre a produção de sementes não foram divulgados. A Aprosmat ainda não finalizou o balanço de 2012.
“Os produtores de soja do Mato Grosso estão com dificuldade em encontrar algumas variedades de sementes para o plantio da próxima safra. A compra começou há meses e mais de 90% das sementes de soja ofertadas no Estado já foram comercializadas”. No Estado, a cultura-chefe é a soja, na medida em que vai sendo colhida dá espaço para o milho ou algodão, que ocupam a mesma área. Por isso, há a preocupação de se antecipar a soja para se assegurar clima favorável às outras culturas.
“Há uma promessa muito boa para próxima safrinha de milho por conta da situação das lavouras norte-americanas. E para isso, os produtores usam variedades com menor ciclo e essa grande procura que causou a falta”, explicou. Os produtores também se deparam com a escassez de cultivares de outras características e a alta nos preços. “Além de cultivares de ciclo curto, estão em falta variedades resistente a nematóides e de alta performance. A pouca oferta reflete também no preço, que naturalmente aumenta”, revelou.
Como explica, a produção das cultivares precoces é mais complicada em relação às de ciclo médio e tardio, porque elas são extraídas durante o período chuvoso, fevereiro e março, e nem sempre são aproveitadas no todo. “As precoces estão sujeitas às perdas de qualidade durante o armazenamento, ou seja, até a entrega ao produtor, perdemos muita coisa”.
A carência de determinadas cultivares faz com que os produtores optem em substituir as sementes por outras. “Os produtores não deixam de plantar. Eles acabam por fazer a substituição por outros tipos de sementes. Como por exemplo, por uma cultivar de ciclo mais tardio, aí pode ser que talvez ele não consiga fazer a segunda safra (milho). Além disso, ele gasta mais com aplicações de fungicida, porque a variedade de ciclo longo fica mais tempo no campo e demora mais a maturar”, comentou.
Segundo Hamer, a falta de determinadas cultivares no mercado de sementes da região Centro-Oeste, em especial Mato Grosso, ocorre todo ano. Por isso os produtores começam a comprar a oleaginosa para plantio quase um ano antes, no período de dezembro, ainda quando se trabalha a safra anterior. Hamer explica que isso acontece porque é difícil estimar a demanda por sementes por fatores como clima e outras eventualidades. “É complicado porque dependendo do clima nem sempre se consegue produzir o tanto que se quer. E como é que se estima também que vai haver uma quebra na safra dos EUA?”, conclui.