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Soja em baixa

Projeções apontam queda da produção de soja em 2010/11. Somente a região Nordeste deve aumentar sua área produtivas.

Soja em baixa

Principal justificativa para as projeções iniciais de órgãos estrangeiros de retração da produção brasileira de soja na safra 2010/11, a expectativa de queda das cotações internacionais do grão no segundo semestre já contaminam também as primeiras estimativas domésticas para o plantio do carro-chefe do agronegócio nacional na próxima temporada.

Em linha com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) e com a publicação alemã “Oil World”, a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja/MT) divulgou na semana passada que a área plantada com o grão no Estado, que lidera a colheita do produto no país, deverá cair 2% na temporada que começará a ser semeada em setembro.

Serão, conforme a entidade, 6,094 milhões de hectares em 2010/11, ante os 6,217 milhões de 2009/10, e só haverá incremento na região nordeste do Estado. No ciclo passado, a produção mato-grossense alcançou 18,81 milhões de toneladas, conforme a Aprosoja/MT, 7,8% mais que em 2008/09. Este incremento foi garantido pelo aumento da área (9,1%), já que, conforme a associação, a produtividade das lavouras caiu quase 1%.

USDA e “Oil World” não divulgaram previsões para a área plantada de soja no Brasil na próxima safra, apenas para o volume de produção. Para o ministério americano, serão 65 milhões de toneladas no total, 5,8% menos que em 2009/10; a publicação alemã prevê 66,5 milhões, queda de 2,1%. Ambos também estimam reduções para a colheita dos EUA, o maior país produtor de soja do mundo, e para a Argentina, o terceiro no ranking que tem o Brasil em segundo.

Consultado pelo Valor no início de junho sobre os números de USDA e “Oil World”, o analista Flavio Roberto de França Junior, da Safras&Mercado, dizia que havia muitas incertezas sobre o comportamento dos preços nos próximos meses e, consequentemente, sobre o plantio de soja no Brasil, que tem vocação natural para a oleaginosa – como a Argentina e ao contrário dos EUA, onde o milho é o grão preferido.

Ouvido na semana passada, Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, lembrou que as lavouras do Hemisfério Norte ainda estão em desenvolvimento e talvez tenham que encarar o fenômeno climático “La Niña”. Com isso, reforçou, ainda é cedo para saber se os sojicultores brasileiros terão mais ou menos estímulo para plantar. Mais de 90% da produção global de cereais e grãos está acima do Equador. Problemas por lá nos próximos dois meses podem mexer profundamente com o mercado.

As atenções estão voltadas para o Hemisfério Norte porque, se tudo correr bem, as colheitas serão cheias e os estoques globais de soja tenderão a permanecer confortáveis, em que pese a forte demanda da China, fator fundamental para evitar fortes quedas dos preços nos últimos meses. Analistas sobretudo americanos chegaram a prever que os contratos futuros de soja poderiam cair para entre US$ 8,50 e US$ 9 por bushel na bolsa de Chicago neste primeiro semestre, o que até agora não aconteceu.

Os papéis para agosto – que no momento ocupam a segunda posição de entrega em Chicago, normalmente a de maior liquidez – encerraram o pregão de sexta-feira a US$ 9,41 por bushel, ganho de 1,25 centavo de dólar em relação à véspera. Na semana, contudo, houve queda acumulada de 1,1%.

Com as incertezas, Sartori também questiona a visão quase geral de que os estoques globais de soja crescerão em 2010/11. Nos EUA sim; mas no mundo, diz, a mudança da correlação de forças no mercado de soja, que ganhou muito mais peso da América do Sul nas últimas décadas, pode significar que não. Em razão dessa mudança, ele crê que previsões para os estoques globais finais como a do USDA deveriam projetar o cenário em 31 de janeiro – e não em 31 de agosto, quando só a produção do Hemisfério Norte está definida.

Há 20 anos, apontou , os EUA respondiam por 54 milhões de toneladas de uma produção mundial de 107 milhões; hoje, representam cerca de 90 milhões em um total de pelo menos 250 milhões.