Da Redação 12/03/2004 – 05h47 – Pela primeira vez em muitos anos a soja brasileira exportada pelo Porto de Paranaguá perdeu liquidez. Isso não é normal para esta época do ano, em que tradicionalmente as exportações deviam estar aceleradas. Vários fatores estão influenciando no comportamento do mercado internacional este ano, entre elas a novidade da polêmica em torno da exportação da soja transgênica.
As tendências de mercado e projeções para a comercialização da soja foram analisadas ontem durante seminário promovido pela agência Safras e Mercados, de Curitiba. Ontem, a soja exportada por Paranaguá estava cotada a US$ 305 a tonelada, enquanto a soja norte-americana escoada pelo Golfo do México estava cotada a US$ 356 a tonelada, uma diferença de US$ 51 por tonelada que os produtores que utilizam Paranaguá para escoamento da safra estão perdendo.
Normalmente, nesta época do ano esse diferencial deveria ser de US$ 15 a US$ 20 por tonelada, comparou o analista Flávio França Júnior, da Safras e Mercados. Com essa diferença, que corresponde ao prêmio pago pelos compradores de soja, dificilmente o produtor vai usufruir da cotação internacional da soja, considerada a mais alta dos últimos 16 anos.
Esse quadro está refletindo a falta de interesse dos compradores, que este ano estão mais lentos nas compras do que em anos anteriores, afirmou França. “Num ambiente de insegurança em relação à logística de transporte e de embarques a tendência do comprador é de se retrair até para ver como as coisas se acomodam”, explicou. Os compradores estão cientes que os portos de Rio Grande (RS) e de São Francisco (SC) não têm a estrutura e não comportam o escoamento de grandes volumes como ocorre em Paranaguá, comparou.
De acordo com o analista, a nova regulamentação para ordens de embarque, novas tarifas, regras de armazenagem e impedimento dos transgênicos vêm contribuindo para o encarecimento do custo geral dos embarques, “fator decisivo para perda de liquidez da soja”, lembrou. Para ele, as medidas adotadas para se reduzir a fila de caminhões como a de permitir a entrada dos caminhões nos terminais apenas com carga já prevista para embarque nos navios está resultando num efeito contrário. “Reduz-se as filas de caminhões, mas em compensação o porto perde sua agilidade”, salientou.
O analista acredita que o deságio em Paranaguá possa ser revertido se houver retração também dos produtores, que devem estar preocupados em vender a soja nesse momento conturbado que está vivendo Paranaguá. “Pela falta de oferta, certamente o prêmio negativo pode cair.”