Um novo distúrbio da soja, identificado em lavouras do Mato Grosso, Pará e Tocantins, está desafiando os pesquisadores brasileiros. Batizada de Soja Louca, justamente pela dificuldade de identificar suas causas, a anomalia tem provocado perdas significativas nestes estados. “Houve casos de produtores com 300 hectares de soja, que tiveram que lavrar tudo e plantar milho, pois perderam toda a oleaginosa”, disse o fitopatologista da Embrapa Soja Maurício Meyer.
A principal suspeita dos pesquisadores é de que a moléstia, que impede que a soja mature, seja causada por um ácaro encontrado na palha sobre a qual as lavouras, em regime de plantio direto, são cultivadas. Os cientistas apontam que entre as principais características do distúrbio, identificado pela primeira vez em 1996, está a perda de qualidade das vagens, que permanecem verdes até apodrecerem. Entre os sintomas ocorre um afilamento das folhas do topo das plantas e o engrossamento das nervuras. As folhas apresentam uma tonalidade mais escura em relação às sadias. As hastes exibem deformações e engrossamento dos nós. As vagens também apresentam deformações, redução do número de grãos e apodrecimento de grãos. Plantas com problemas registram alto índice de abortamento de flores e vagens. Esse sintoma é mais intenso na parte superior das plantas, diminuindo em relação à base, o que impede o processo natural de maturação, fazendo com que a planta permaneça verde no campo.
Mesmo sem registros no Rio Grande do Sul, por se tratar de uma anomalia de climas mais quentes, a orientação das cooperativas é de que os produtores fiquem atentos a modificações nas lavouras. “Ainda não identificamos a doença, mas não descartamos a possibilidade, por isso devemos ficar atentos”, disse o diretor agrotécnico da Cotrijuí, Mário Jung. O especialista diz que, ao contrário do que ocorreu com a Ferrugem da Soja, que é “transportada” pelo vento, é mais difícil o deslocamento da Soja Louca até o Estado, se efetivamente se confirmar se tratar de uma praga. “Precisaria ser transportada junto com alguma planta, já que com as sementes é mais difícil”, disse.
Sem um diagnóstico conclusivo, os cientistas ainda não têm uma fórmula para combater o problema e por isso apostam na prevenção. Conforme o professor da Esalq/USP Durval Dourado Neto, outras causas da doença podem ser o estresse causado por fatores ambientais ou biológicos, hormônios relacionados à inibição ou crescimento da planta. “É preciso observar as fases de desenvolvimento da planta e suas relações com o ambiente”, disse o professor.
Os estudos em lavouras de soja do Mato Grosso descartaram que o problema fosse ocasionado por doenças, percevejos, fitoxicidade ou deficiências nutricionais. “Colocamos o ácaro na planta sadia e ela manifestou a doença”, disse Meyer. No entanto, o professor Aníbal Ramadan Oliveira, da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, afirma que não é esperado que os ácaros sejam os agentes causais da Soja Louca. Segundo ele, há relatos raros e bastante antigos de que os ácaros causem danos a culturas agrícolas. “Isso mostra que se houver correlação com a Soja Louca II será uma descoberta científica completamente inovadora.” Para Oliveira, é necessária uma intensificação dos estudos para constatação quanto a onde, quando e em que condições os ácaros poderiam estar se alimentando da planta de soja e, de alguma forma, contribuindo para a manifestação da Soja Louca.