A cerca de dois meses e meio para o início do plantio do ciclo 10/11, os sojicultores mato-grossenses já conseguiram negociar 10% da safra de soja por meio dos contratos futuros, segundo levantamento da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja). No ano passado nesta mesma época dos negócios não passavam de 5% da produção estimada para 09/10.
Para os analistas de mercado, os bons preços dos últimos 15 dias, com a soja cotada a US$ 9,70/bushel, favoreceram as vendas futuras no mercado internacional. “Os produtores aproveitaram o bom momento dos preços e travaram contratos visando a próxima safra, que ainda é uma incógnita”, frisa o diretor administrativo da Aprosoja/MT, Carlos Fávaro.
A primeira estimativa sobre intenção de plantio, divulgada na semana passada pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), aponta queda de 1,98% da área plantada de soja, que deverá recuar de 6,21 milhões de hectares para 6,09 milhões de hectares. Todas as regiões, à exceção do nordeste mato-grossense, deverão apresentar queda na área cultivada.
Com a queda dos preços da soja na semana passada (US$ 9,30/bushel), o mercado voltou a esfriar e os negócios estão praticamente estagnados. “O produtor está atento ao comportamento do mercado e toma as decisões de acordo com as oscilações dos preços da soja”, aponta Fávaro. Ele diz que mesmo com a estagnação momentânea dos negócios futuros, as vendas este ano estão bem mais adiantadas do que em 2009, nesta mesma época, quando não passavam de 5%.
Os analistas recomendam cautela por parte dos produtores, principalmente em relação à safra mundial de soja, que este ano deverá alcançar novo recorde. “Os produtores devem ficar atentos às previsões climáticas internacionais e às perspectivas de colheita das safras norte-americana e chinesa. Se não houver nenhuma surpresa, teremos uma supersafra elevando os estoques e puxando os preços para baixo no mercado internacional”.
PRESSÃO – No Brasil, a colheita deverá ficar em torno de 64 milhões de toneladas, das quais 18,7 milhões virão de Mato Grosso. Os Estados Unidos devem colher cerca de 92 milhões de toneladas.
Para Carlos Favaro, os preços em 2010 vão sofrer pressão devido à boa safra nos estados produtores brasileiros e à super-oferta prevista das safras norte-americana e argentina. A produção argentina deverá saltar de 32 milhões de toneladas para 53 milhões de toneladas. É este aumento de safra que tende a exercer pressão baixista sobre as cotações futuras nos primeiros meses do ano.
Os importadores chineses acreditam que as boas safras de Brasil e Argentina podem levar a um grande recuo nos preços da soja em Chicago, que costuma refletir o desempenho das exportações norte-americanas. “Devemos estar atentos para o risco de uma super-oferta mundial, já que o mercado espera um incremento de estoque”, lembra Favaro. A safra deverá pular de 210 milhões de toneladas para 253 milhões de toneladas. Este aumento tende a exercer pressão baixista sobre as cotações futuras nos primeiros meses do ano que vem.
A produção da safra sul-americana de soja 09/10 deve ser 30,5 milhões de toneladas maiores do que a registrada na safra passada, o que significará um crescimento de 34,6% nos estoques mundiais do grão.
Os analistas entendem que a demanda mundial deve crescer 6%, mas não será suficiente para enxugar toda a oferta adicional de soja. “Para que tudo isso se confirme, teremos de confirmar as estimativas de safra recorde na América do Sul, o que elevaria a oferta mundial para um nível bastante superior à demanda projetada em 09/10”, aponta Favaro.