O ano ainda não terminou, mas, como a soja desta safra praticamente acabou, já é possível fazer nesta coluna uma retrospectiva de 2010 (que teve a rara combinação de safra boa e rentabilidade alta) para, na próxima, falar sobre as expectativas para o próximo ano.
A safra 2009/10 da América do Sul foi muito bem regida sob a batuta do “El Niño”, que provocou chuvas constantes e bastante insolação para gerar a maior colheita da história do continente.
No Brasil, a produtividade média foi de 48,8 sacas por hectare – um recorde.
Somando-se Brasil e Argentina, a produção dos dois países chegou a 123,5 milhões de toneladas, 33,7 milhões de toneladas (38%) a mais que o resultado obtido em 2008/9.
Por conta dessa safra gigantesca, os preços naturalmente derreteram de 2009 para 2010.
Em Cascavel (PR), por exemplo, a média de preço no mercado disponível caiu de R$ 45,50 por saca no último trimestre do ano passado para R$ 34,85 no primeiro trimestre deste ano.
Os preços permaneceram lá embaixo durante todo o primeiro semestre, em uma tendência de queda que só foi reforçada quando os Estados Unidos confirmaram que cultivariam 31,4 milhões de hectares -a maior área de soja de sua história.
Após o término da colheita, o sentimento dos produtores brasileiros era o de que a safra foi boa, mas a rentabilidade não.
Pelo lado da demanda, o ritmo de consumo da China continuou forte durante o ano todo, mas, mesmo assim, não parecia capaz de neutralizar a influência negativa da supersafra sul-americana.
A expectativa de melhora dos preços ficava, portanto, a cargo de uma eventual quebra de safra nos Estados Unidos no segundo semestre -que acabou não acontecendo, já que os norte-americanos colheram produção recorde.
Ainda assim, as cotações dispararam. Isso aconteceu porque a financeirização dos mercados de commodities (leia-se fundos de investimento em todas suas variadas formas) voltou a dar as cartas.
Uma onda de calor no cinturão de produção de trigo da Rússia, no final de junho e no início de julho, gerou uma centelha de fogo nos fundos, que voltaram a enxergar nas commodities em geral uma grande opção para seus investimentos.
No final de junho, a posição dos fundos em soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago equivalia a 96 milhões de toneladas compradas; 60 dias depois, chegava a 175 milhões de toneladas, um recorde.
Os preços, claro, subiram junto, e o ano, que caminhava para ser de rentabilidade média, acabou ficando excelente, em especial para os produtores que vendem o grão parceladamente, sem concentrar sua comercialização na boca da safra.
Tomando-se Cascavel novamente como exemplo, a média de preço saltou dos R$ 34,15 por saca do segundo trimestre deste ano para R$ 39,30 no terceiro, com um avanço de 15%.