Redação (04/04/07) – Elas estão paradas desde o dia 23 de março nos portos de Porto Velho, em Rondônia, e Itacoatiara, no Amazonas, de onde subirão por mais 20 horas até chegar a Santarém, no Pará. Ali, outras oito "chatas" com 19 mil toneladas do grão estão estacionadas sem prazo para sair, enquanto o escritório regional do Ibama faz as análises jurídica e técnica dos documentos apresentados pela Cargill e o porto de Santarém permanece lacrado por ordem do Ministério Público Federal. A multinacional americana é acusada de operar sem a mais importante licença ambiental brasileira, o EIA-Rima.
Desde 2003, quando tiveram início as operações, o porto movimenta anualmente cerca de 1 milhão de toneladas de soja, a maioria do Mato Grosso. O grão segue de caminhão até Porto Velho, onde é transferido para as balsas que os escoará até Santarém, e de lá para o exterior. "Estamos perdidos", diz Paulo Vicente Caleffi, assessor da presidência da Transportes Bertolini LTDA, a empresa responsável por todo o transporte fluvial da soja na região.
Com sede no Rio Grande do Sul, a empresa contabiliza quase R$ 1,5 milhão de prejuízo até agora, algo como 20% de sua receita fluvial. "Estão nos afetando na época mais favorável para o nosso negócio, que é a cheia do rio", afirma Caleffi, lembrando da difícil logística da região amazônica. O inverno na região amazônica, que começa no fim do ano e se estende até julho, é o melhor momento para a navegação, explica ele. Nesse período, os seis comboios da empresa chegam a fazer duas viagens por mês. "Agora está tudo parado", acrescenta.
O primeiro embarque desde o embargo de Santarém estava marcado para hoje, com destino à Europa. "Por uma feliz coincidência", diz a Cargill, "o navio atrasou e atracará somente na sexta-feira". A empresa confirma que tem estruturado um plano B para o escoamento e cumprimento de contratos internacionais. Mas não revela como nem por onde, alegando sensibilidades de mercado. Como não há previsão de reabertura de Santarém, a Cargill deverá redirecionar o navio para outro porto, o que irá acarretar custos extras. Na pior das hipóteses, terá de pagar pela "demourrage", que é o custo de manter o navio atracado no porto sem carregar.
"Até agora não fomos informados do que acontecerá", diz Caleffi. Ele atenta para o tempo de espera dos grãos nos porões das balsas, em um cenário de sol forte e alta umidade do ar. "Não sabemos quanto tempo essa soja vai aguentar nessas condições".
Enquanto isso, a Cargill aguarda uma sentença de instâncias superiores que possa reverter a situação, uma vitória de grupos ambientalistas que alertavam sobre as ameaças ambientais da empresa. E não é só eles pensam assim. Na avaliação do procurador da República Felipe Braga, o porto da Cargill incentivou o desmatamento de matas nativas da Amazônia para o plantio de soja e também provocou o êxodo de moradores de suas terras.