Redação (08/12/2008)- Quase 80% da soja que será consumida na União Européia em 2008 será transgênica, aponta levantamento da consultoria brasileira Céleres com base em dados oficiais do bloco e de seus principais fornecedores do grão no exterior – Brasil, Argentina e Estados Unidos, nesta ordem. Em 2007, o percentual atingiu 77%.
A partir desse diagnóstico, Anderson Galvão, diretor da Céleres, sente-se seguro para afirmar que "não existe restrição ao consumo de soja transgênica" nos 27 países-membros da UE, apesar da sobrevivência de alguns focos de resistência aos organismos geneticamente modificados (OGMs) no velho continente.
Nesse contexto, a consultoria alerta que o Brasil, como principal exportador do grão para o bloco, "precisa avaliar com critério suas posições nas discussões internacionais, como no caso do Protocolo de Biossegurança que trata, entre outros itens, do comércio internacional de produtos transgênicos". A sugestão, aqui, é que se o país aceitar travas rígidas a esse comércio, pode acabar prejudicado.
"É claro que sempre haverá um nicho que desejará consumir soja não transgênica, mas a verdade é que, hoje, mais de três quartos da população daqueles países [da UE] estão consumindo soja transgênica e vêm fazendo isso de forma estável nos últimos dez anos", diz Galvão em comunicado enviado pela Céleres ao Valor.
Para chegar às conclusões apresentadas, Anderson Galvão cruzou dados de produção, exportação, importação e consumo.
Ele mostra, por exemplo, que as exportações brasileiras de farelo de soja – e de grão posteriormente convertido em farelo dentro do bloco – deverão saltar de 3,155 milhões de toneladas, em 2003, para 9,697 milhões em 2008. Nesse mesmo intervalo, a participação da soja transgênica no plantio total do grão no país passou de 18% para 62%.
São semelhantes os comportamentos envolvendo as vendas argentinas e americanas para a UE. Para a Céleres, "isso significa que a indústria de ração animal da UE está gradualmente substituindo o uso da soja convencional pelo da soja transgênica, sem prejuízo para o mercado, visto que a produção total de rações no bloco encontra-se estabilizada".
Apesar do avanço, há espaço para todo mundo. Recentemente foi criada no Brasil a Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange), justamente para explorar sobretudo o apetite europeu por grãos convencionais.