Redação (04/07/2008)- O produtor de soja do Brasil ainda nem começou a semeadura, mas vai plantar a partir do final de setembro com várias incertezas. Entre elas, o tamanho da safra americana e os valores do câmbio e do prêmio na data de entrega do produto, a partir de fevereiro de 2009. Poucos agentes do mercado se arriscam neste momento a dizer ou revelar suas projeções sobre quanto a soja estará valendo no campo no momento da colheita. Mas, segundo a consultoria AgRural, a rentabilidade média será, pelo menos, duas vezes maior do que no ciclo 2007/08.
Os cálculos se referem a Sorriso, município situado a 400 quilômetros da capital de Mato Grosso, Cuiabá, e distante, pelo menos, 2 mil quilômetros do porto marítimo mais próximo, ou seja, trata-se da região com uma das piores logísticas do País. Segundo a AgRural, na safra 2007/08 os produtores desse município tiveram, em média, ganho de R$ 200 por hectare, mesmo com a comercialização antecipada da produção – 78% da safra foi vendida antes da colheita quando os preços na Bolsa de Chicago (CBOT) estavam abaixo de US$ 12 o bushel (27,2 quilos), cotação que em março, na data de entrega do produto, estava no patamar de US$ 15.
Apesar de não revelar qual é a sua projeção de preço da soja para fevereiro de 2009, a AgRural calcula que a rentabilidade média na safra 2008/09 será de R$ 600 por hectare, considerando custos médios entre os produtores que compraram adubo no início do ano, e os que adquiriram mais ao final do primeiro semestre, quando os preços estavam cerca de 50% maiores. "O produtor que compra fertilizante agora tem custo de produção (variável) próximo de R$ 1,6 mil por hectare. Sua rentabilidade deve ficar próxima de R$ 400 por hectare, o que é menor que a média, mas já significa o dobro da média do ciclo passado", pondera Eduardo Godoi, analista da Agência. Esse resultado será melhor, mesmo considerando uma produtividade média de 52 sacas por hectare, menor do que as 55 sacas registradas na safra 2007/08. Na média, o custo de produção de soja em Sorriso está em R$ 1,41 mil por hectare.
"Esses valores médios são sempre muito questionados, por que não refletem a situação individual do agricultor. Nesse bolo, temos produtores que compraram adubo muito bem e que vão ter rentabilidade de R$ 1 mil por hectare", acrescenta Godoi.
A condição favorável ao cultivo da oleaginosa, mesmo com os custos mais altos, se explica facilmente pela elevação nos preços da soja na CBOT que se refletiram no valor da saca nas principais praças do País (ver gráfico). Em 3 de julho de 2007, a cotação da commodity na bolsa americana era de US$ 8,5575 o bushel (contrato agosto), valor que ontem fechou a US$ 16,49, quase duas vezes maior.
Marcelo Duarte, diretor-executivo da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja) concorda que, se o produtor pudesse fixar os preços da soja hoje com os atuais custos, o retorno seria positivo. No entanto, a alta volatilidade do mercado de commodities e as incertezas quanto ao câmbio e ao prêmio trazem muita insegurança. "Teoricamente, tudo faz sentido. Mas esse preço atual não está sendo realmente praticado para a próxima safra. E tem muita água para passar debaixo dessa ponte. Sinceramente, eu acho que as chances de o preço cair são muito maiores do que as de ele subir", avalia Duarte.
Outro problema, segundo o diretor da Aprosoja, é a restrição de crédito nesta safra ao produtor e a baixa capitalização da maior parte deles. "Estimamos que vai faltar mais de R$ 2 bilhões para o financiamento desta safra em Mato Grosso. Isso vai resultar em mais concentração na atividade. Os maiores – que têm a acesso a crédito em instituições estrangeiras – vão novamente arrendar terras dos pequenos, que estão descapitalizados e com dívidas contraídas dos resultados negativos das safras anteriores", pondera Duarte.
Levantamento da AgRural mostra que, nas últimas quatro safras de soja em Mato Grosso – especificamente em Sorriso – a rentabilidade foi negativa em duas. No ciclo 2004/05 houve prejuízo de R$ 33 por hectare, na 2005/06 a perda foi de R$ 197 por hectare, cenário que mudou em 2006/07 para R$ 187 e em 2007/08 para R$ 200 por hectare.