Redação (06/02/2009)- Os bons preços ofertados para a soja de janeiro e de fevereiro fizeram com que a comercialização do grão na safra 2009/10 superasse em alguns estados tudo o que foi negociado durante todo ano de 2008. Os estados líderes foram a Bahia, cujo percentual mais que dobrou, de 14% para 30%, entre dezembro e 20 de janeiro, e Goiás, onde esse desempenho avançou de 16% para 32%. No Brasil todo, o volume comercializado saiu de 18% em dezembro para 29% da colheita estimada em 57,7 milhões de toneladas, segundo a AgRural.
"Acredito que até essa primeira semana de fevereiro, esses números estejam parecidos, pois os preços recuaram a partir do final de janeiro com a entrada da safra", explica Eduardo Godoi.
Em Mato Grosso, primeiro produtor de soja do País com 29% da colheita nacional, a venda antecipada avançou de 30% em dezembro para 45%. "Muito produtor dobrou o volume negociado e quem não tinha vendido nada aproveitou. Em 50 dias, foram mais de 2,5 milhões de toneladas negociadas", informa.
O mega-produtor de Eraí Maggi, que cultiva 150 mil hectares com a oleaginosa, foi um dos que acelerou seus negócios em janeiro. Ele conta que até dezembro, tinha de 35% a 40% de sua colheita prevista negociada antecipadamente. A maior parte desses contratos foram feitos no primeiro semestre, quando o bushel (27,2 quilos) da soja na Bolsa de Chicago (CBOT) chegou a bater 16 centavos de dólar. "Minhas fixações variaram naquele momento entre 12 a 15 centavos de dólar por bushel", conta Eraí.
Em janeiro, com a retomada das cotações em Chicago – que passaram boa parte do segundo semestre de 2008 entre 8 e 9 centavos de dólar por bushel – o megaprodutor voltou aos negócios e, de 30%, avançou para 70% sua comercialização.
Godoi, da AgRural, explica que o forte dos negócios em Mato Grosso começou quando o grão passou a valer R$ 37 a saca. Daí em diante, a trajetória foi de alta até a saca atingir o patamar de R$ 40 (Sorriso-MT). "Esse passou a ser o preço de referência. Depois, com a entrada da colheita em outras regiões do País, a cotação recuou para os níveis atuais de R$ 36,5 e agora a comercialização voltou a ficar lenta. Muitos produtores já atingiram um volume de comercialização mais confortável para atravessar o pico da safra e voltar ao mercado depois de março", conta o especialista da AgRural. Além disso, continua Godoi, os próprios compradores já adquiriram um bom volume e agora estão mais preocupados em receber a soja, que fechar novos negócios.
Até a última sexta-feira, dia 30, Mato Grosso já havia colhido 10% de sua área cultivada de 5,76 milhões de hectares. "Desde então, o volume de chuvas foi intenso e, por isso, a colheita não deve ter avançado para percentuais acima de 14% a 15%", antecipa Godoi. Ele estima que a colheita no Paraná deve estar um pouco acima de 1% e em Goiás, entre 2% e 3% da área plantada.
A comercialização no Sul do País foi a que menos avançou em janeiro, de 10% para 14%. No mesmo período de 2008, esse percentual estava próximo de 36%. Apesar do avanço, a negociação antecipada no Brasil em 29% está bem abaixo dos 52% de janeiro de 2008. Mato Grosso há um ano tinha 73% da safra comercializada, ante os 45% atuais.
Elton Hamer, produtor e vice-presidente técnico da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso, diz que até dezembro tinha apenas 10% de sua safra 2008/09 negociada, percentual que avançou para 70% em janeiro. "Ainda assim, os 10% vendidos antecipadamente em 2008 me traziam remuneração próxima de zero ou negativa. Por isso, aproveitei os bons preços de janeiro", conta Hamer.
Ele pondera que apesar dos bons preços em janeiro, os produtores de sua região, o Médio Norte de Mato Grosso, devem ter quebra de produtividade em torno de 12% por conta da forte estiagem que atingiu as lavouras no período de enchimento de grãos. "Esperávamos colher 17 milhões de toneladas, mas agora a expectativa está em 14 milhões de toneladas", lamenta Hamer.