Redação (17/04/06)- O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja), Rui Ottoni Prado, adverte que caso uma providência não seja tomada urgentemente pelo governo Federal, com intuito de recuperar a renda no campo, os sojicultores vão jogar a toalha e deixar de plantar a safra 2006/07 no Estado. Temos até o mês de agosto para decidir o nosso destino. Se a União fizer alguma coisa de concreto para socorrer o setor e repor parte da renda perdida nestes dois últimos anos, poderemos plantar. Caso contrário, não estaremos dispostos a correr o risco de ficar mais uma vez à mercê da sorte. Seremos obrigados a abandonar a atividade, alerta o presidente da Aprosoja.
No ano passado, o complexo soja (grãos, farelo e óleo) respondeu por 78,71% das exportações mato-grossenses, com um volume exportado de US$ 3,26 milhões. Deste total, US$ 2,13 milhões foram obtidos pela comercialização do grão.
O secretário de Desenvolvimento Rural do Estado, Clóves Vettorato, reconheceu que, se a decisão de não plantar for tomada pelos produtores, a economia estadual poderá sofrer um forte revés. Não fazemos a dimensão deste prejuízo, por isso preferimos aguardar.
Vettorato afirma que, apesar de amarga, a decisão dos produtores é correta. Ninguém vai plantar para colher prejuízos, pondera. E completa: Se com a soja não der, vamos partir para outras atividades que nos dêem sustentação e resultado. Por isso é que o governo de Mato Grosso está buscando outras alternativas aos produtores.
Ele lembrou que, não havendo uma solução para a questão da renda dos produtores de soja, uma das alternativas será migrar para outras culturas, como o algodão e a cana-de-açúcar. Podemos pensar também no biocombustível e no reflorestamento, que também são atividades que dão mais lucro e oferecem menos risco ao produtor, exemplifica.
O presidente do Sindicato Rural de Primavera do Leste (239 quilômetros ao Centro Leste de Cuiabá), José Nardes, confirma que os produtores estão dispostos mesmo a parar de plantar caso o governo Federal não tome uma medida urgente. O governo só pensa na questão da prorrogação das dívidas. Na verdade, o nosso problema está na perda de renda que vem corroendo o patrimônio do produtor ano a ano e deixando-o insolvente e sem possibilidades de plantio, afirma Nardes.
A saída para minimizar a situação dos produtores, segundo o presidente do Sindicato Rural de Sinop (503 quilômetros ao Norte de Cuiabá), Antônio Galvan, será recorrer às ações judiciais. Já estamos nos preparando para encaminhar três ações contra a União. Pedimos a anulação de cobrança de dívidas da securitização rural e a prorrogação das parcelas do custeio e investimento da safra 04/05. Ele sugere ainda uma ação que garanta preços mínimos e indenização das perdas sofridas pelos produtores em função do descumprimento das normas do Estatuto da Terra.
Na avaliação dos produtores, o problema crucial na sojicultura está na perda de renda. Atualmente os preços não cobrem sequer os custos de produção, exclama o presidente da Aprosoja. Segundo ele, para se produzir um ha de soja o produtor gasta, em média, R$ 1,1 mil. Neste mesmo pedaço de terra, a renda obtida pelo produtor gira em torno de R$ 600, levando-se em conta uma cotação média de R$ 14/saca e um rendimento médio de 43 sacas/ha.
Só na região de Primavera do Leste, de acordo com levantamento do sindicato rural do município, as perdas com a safra este ano podem chegar a R$ 250 milhões, considerando uma área plantada de 500 mil hectares e um prejuízo de R$ 500 por hectare. Não há como continuarmos na atividade tendo que bancar este prejuízo, diz o presidente do sindicato, José Nardes.
O presidente da Aprosoja informa que nos próximos dias os produtores vão ingressar na Justiça contra a União para reaver os prejuízos e forçar o cumprimento do Estatuto da Terra, que prevê preços mínimos em patamares que garantam 30% de lucratividade para o produtor.
Na opinião do presidente da Aprosoja, o pacote agrícola divulgado pelo governo Federal na semana passada contempla basicamente a rolagem da dívida dos produtores. O governo teima em tentar uma solução só para esta questão. A prorrogação é apenas uma das medidas. Ela só ajuda, mas não resolve, critica.
Segundo o presidente da Federação da Agricultura do Estado (Famato), Homero Pereira, as medidas do pacote resolvem apenas 30% dos problemas dos agricultores. Ainda assim não sabemos se as medidas serão eficazes e trarão todos os benefícios que o governo está anunciando. Na nossa opinião, o pacote é tímido e deixa o produtor confuso em relação ao seu futuro.