Os produtores de soja reivindicaram nessa terça-feira (01) ao governo a reserva de R$ 1 bilhão para bancar subsídios oficiais à comercialização da nova safra do grão em 2010. Em meio a projeções de redução da demanda e forte elevação da oferta, o segmento pediu ao Ministério da Agricultura a garantia de intervenção para enfrentar uma esperada piora no cenário internacional.
“Precisamos nos antecipar e ter prontos alguns mecanismos de comercialização, como Pepro e PEP. Hoje, estamos no zero a zero porque os preços cobrem os custos. Mas o futuro ninguém sabe”, diz o presidente da Federação de Agricultura de Mato Grosso (Famato) e da Câmara Setorial da Soja, Rui Prado. “Em Mato Grosso, se a saca ficar abaixo de R$ 35 não cobrimos o custo de produção. Isso sem falar no endividamento do passado. Enquanto o governo não fizer a infraestrutura necessária, tem que apoiar a comercialização da safra”.
O governo resiste em garantir muitos recursos para a soja, considerada a cultura de maior liquidez e maiores margens. O orçamento para a comercialização de toda a safra em 2010 deve somar R$ 6 bilhões. “O governo quer que a gente faça “hedge” de dólar e de preços, mas o produtor não tem acesso a isso, não tem mais limite nos bancos para isso. Mas parece que o governo acha que a gente não faz porque não quer”, reclama.
Os produtores de Mato Grosso também pediram a inclusão de 300 mil hectares cultivados com soja nesta safra no zoneamento de risco agropecuário. A área não tem cobertura do seguro oficial (Proagro) nem de apólices privadas porque foi plantada antes de 1º de outubro, data prevista no zoneamento. A associação estadual dos produtores (Aprosoja) pede a antecipação do plantio para 15 de setembro.
O cenário desenhado pelos produtores para 2010 prevê aumento de 18,7% na oferta mundial de soja, para 250,23 milhões de toneladas. O excedente em relação à safra anterior alcançaria 40 milhões de toneladas. “Era para o preço ter caído mais. Até agora, a demanda da China manteve cotações sustentadas”, avalia a economista Rosemeire dos Santos, da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA). “Mas os fundos de commodities detêm 39,66% dos contratos abertos na bolsa de Chicago. Qualquer notícia sobre clima bom, safras cheias ou produtividade melhor pode fazer os preços virarem de uma hora para outra”, acrescenta.
No Brasil, diz a CNA, cerca de 70% da área já foi plantada. O clima normal na maior parte do País tem ajudado, mas há excesso de chuvas no Rio Grande do Sul e a ocorrência de doenças como a ferrugem asiática em Mato Grosso. “Isso pode comprometer os lucros porque eleva custos de produção, sobretudo por causa de deficiências logísticas e preços mais baixos na Bahia e em Mato Grosso”, analisa.
As projeções para 2010 mantêm a incerteza sobre a taxa de câmbio. A CNA estima R$ 1,70 na comercialização da safra. “Estamos com um cenário de baixa porque o Brasil não tem poupança interna para bancar investimento e tem que continuar a atrair capital de fora”, diz Rosemeire dos Santos.