Da Redação 03/08/2005 – Rentabilidade deve induzir a substituição de lavouras no Sul e Sudeste do País. Nos últimos seis anos, a soja dominou a preferência nacional na hora do plantio. Mas, agora, a oleaginosa vai perder área para o milho. Analistas de mercado indicam crescimento de até 9% na superfície cultivada com o grão. Desde a safra 1999/00 que o aumento da área de milho não é superior ao de soja.
Uma maior rentabilidade do cereal frente à oleaginosa é que estaria provocando a mudança de rumo. Sempre que a relação entre os dois fica menor do que duas sacas de milho por uma de soja, há essa troca.
Levantamento do Instituto FNP mostra que se o produtor do Paraná plantasse hoje milho e soja, o primeiro seria 27% mais rentável que o segundo. “Em um ano em que o produtor vai carregar dívidas, essa rentabilidade faz toda diferença”, diz Daniel Dias, responsável pelo estudo. Ele ressalta que isso não significa que o produtor de soja vai perder dinheiro, mas que vai ganhar menos.
A pesquisa mostra que no Sul e Sudeste do País – exceto no Rio Grande do Sul, onde o plantio de soja transgênica reduz o custo de produção – o cultivo de milho será muito mais rentável que o da soja. A diferença de rentabilidade entre os dois produtos varia de 5% a 53%, dependendo do estado. O estudo considerou os preços atuais dos dois produtos, com produtividades médias para as regiões, sem levar em conta eventuais problemas climáticos, como os deste ano.
Outras consultorias são mais conservadoras em suas projeções. A Safras & Mercado acredita em um crescimento de 1,4%, enquanto a Agroconsult espera variação de 4,1%. Leonardo Sologuren, da Céleres, explica que o mercado para o milho é considerado promissor devido ao baixo estoque de passagem de uma safra para a outra – houve quebra de produção. No Sul do País, ele espera uma superfície cultivada 5% maior. “Ainda há indefinição porque existe o problema de dificuldade de crédito e os preços dos insumos não foram definidos”, diz Sologuren.
“A relação de troca de milho e soja está favorável ao cereal”, diz Fábio Meneghin, da Agroconsult. Para Paulo Molinari, da Safras & Mercado, apenas Santa Catarina e Rio Grande do Sul devem preferir o milho à soja, uma vez que são grandes consumidores desse grão, em falta neste ano devido à seca. “No Centro-Oeste, os preços não incentivam e já está consolidado o modelo soja no verão e milho na safrinha”, diz Molinari.
Os analistas são unânimes em afirmar que as projeções dependem da liberação de crédito para o custeio, que estão atrasadas. “As contas a pagar restringem as possibilidades”, afirma Dias. Se o crédito oficial sair a tempo, o milho deve ser beneficiado. Se atrasar, a soja sai na frente porque ainda conta com financiamento privado para o plantio.
O técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Carlos Eduardo Tavares, não acredita nesta troca. “A liquidez da soja é muito maior”, diz, referindo-se ao fato de ser mais fácil vender a oleaginosa do que o cereal. Dias admite essa vantagem da soja, mas argumenta que o cenário futuro é mais promissor para o milho do que para a soja.