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Insumos

Tendências sobre o preço do milho

Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo abordam a cotação do cereal.

Tendências sobre o preço do milho

Desde meados do ano passado o preço do milho tem sido motivo de preocupação no cenário agrícola do Brasil. A safra de verão 2008/2009 foi implantada com insumos adquiridos a preços elevados, resultantes da euforia financeira que começou a se desfazer em fins de 2008 após ter inflacionado os custos desta safra. Condições climáticas desfavoráveis prejudicaram as lavouras de verão no Sul do Brasil, o que forneceu algum suporte aos preços no início de 2009. A partir da safrinha colhida em 2009, cujas produtividades agrícolas foram beneficiadas por condições muito favoráveis de clima que ocorreram principalmente no estado de Mato Grosso, é que os problemas começaram a vir à tona.

A situação que se configurou foi a seguinte: a) a safra colhida era suficiente para atender às necessidades internas; b) a localização desta produção estava em um dos pontos extremos da região produtora de grãos do Brasil (o estado de Mato Grosso); e, c) os preços internacionais apresentaram uma redução a partir de uma safra americana que atendia às suas necessidades internas, para complicar um pouco a situação. Em resumo, o problema estava na localização do aumento da produção de milho (no estado de Mato Grosso que apresenta ainda um reduzido consumo interno). O que fazer? Tentar criar alternativas para consumo deste excesso de produção de forma a sustentar os preços. Isto foi feito por meio dos leilões da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e o estado de Mato Grosso tornou-se o maior exportador de milho do Brasil (cerca de cinco milhões de toneladas, das quais três milhões após o mês de setembro). O efeito deste excesso de produção em MT fica evidenciado na redução dos preços verificada em determinadas praças. Enquanto até Goiás os preços do milho caíram cerca de R$ 2 por saca entre o primeiro e o segundo semestre de 2009, em Mato Grosso esta redução foi de cerca de R$ 4 por saca. Isto em cima de um preço já deprimido, de cerca de R$ 12 por saca.

Chegando ao que interessa, o panorama para a safra de verão 2009/2010 era terrível, com sinais claros de redução da área plantada – o que ocorreu de fato – como forma de ajuste dos agricultores a uma situação claramente negativa. Os custos de produção indicavam que, aos preços sinalizados, somente produtores muito eficientes conseguiriam algum resultado econômico positivo. As áreas plantadas com milho, segundo a Conab, decresceram 30% (!!) no Paraná e em Goiás; entre 10% e 15% em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul e foram menores em Minas Gerais (8%) e em São Paulo (4%). A lógica econômica funcionou e apenas os produtores que: a) conseguiam implantar sistemas de produção compatíveis com os preços de milho sinalizados; ou b) têm na produção de milho um constituinte imprescindível de suas atividades agrícolas, considerando a propriedade como um todo, colocaram as sementes de milho no chão.

O que poucos esperavam eram as condições climáticas extremamente favoráveis que aconteceram principalmente no Sul do Brasil. Como resultado, a produção aumentou nos três estados do Sul, e o efeito da redução da área plantada sobre a produção funcionou apenas em Goiás e em Minas Gerais.

Neste ponto cabe uma pergunta: os preços do milho estão baixos? Ora, se a decisão do plantio foi tomada considerando-se preços baixos, temos que entender também que o aumento da produtividade certamente beneficiou aqueles que tomaram esta decisão de forma consciente. A diferença entre o custo efetivo do milho produzido (realizado após a colheita em condições favoráveis) e a estimativa de custo de produção do saco de milho, efetuada no planejamento das lavouras (e que serviu para uma tomada de decisão racional), foi positiva e beneficiou os agricultores, mesmo que o preço de mercado do milho esteja em um patamar considerado baixo.

No caso do planejamento da safrinha, todos os componentes existentes no planejamento da safra de verão estavam presentes, com o adicional de que as produtividades superiores do milho no Sul do Brasil eram realidade. O aumento da área plantada em Goiás (14%) e Mato Grosso (25%) verificado neste ano não seria lógico a não ser que: a) o milho definitivamente faz parte do sistema de produção regional com benefícios que vão além da produção per si (fornecimento de palha para plantio direto e manutenção da área em condições favoráveis para as lavouras de soja); ou b) os custos de produção das lavouras na safrinha estão compatíveis com o preço que se verificam nestes estados.

A primeira das alternativas é muito relevante e, de certa forma, explica em grande parte o desenvolvimento recente da produção de milho em Mato Grosso. Nesta situação, o aumento no preço mínimo do milho fixado para o estado não serve como balizador para a tomada de decisão no planejamento da safrinha, pois esta decisão é baseada em outros fatores talvez mais relevantes para os agricultores. Como neste estado grande parte da produção encontra abrigo nos programas governamentais, este acréscimo implica apenas em um maior gasto por conta do governo federal. Entretanto, esta constatação não pode ser justificativa para reajustes destes preços mínimos na safra atual (uma vez que eles já se tornaram públicos), mas pode ser um argumento para a fixação destes preços nos próximos anos.

A segunda das alternativas pode ser discutida com base nos custos operacionais estimados pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea). Os valores para a saca de milho produzida em sistemas de alta tecnologia (100 sc/ha) resultam em um custo estimado de R$ 8,40/sc; nos de média tecnologia (80 sc/ha) em um custo de R$ 7,60/sc e nos de baixa tecnologia (60 sc/ha) em um custo de R$ 8,30/sc. Estes custos estão em linha com os preços de milho verificados nos mercados locais, ao redor de R$ 8 por saco de milho.

Entretanto, assim como as condições climáticas podem conduzir a resultados que beneficiam aos agricultores, em termos de custo do milho produzido, condições desfavoráveis podem prejudicar os resultados econômicos. Lavouras implantadas com a expectativa de uma produção de 100 sc/ha, caso produzam menos do que isto, devido a condições fora do controle dos agricultores, resultarão em custos do milho produzido superiores aos estimados e agora já não tão perto dos verificados no mercado. As informações desfavoráveis sobre o clima no mês de abril, em Mato Grosso, podem indicar uma situação como esta para a safrinha de 2010.

Para finalizar, o que se deseja chamar atenção é que não necessariamente os valores atuais de milho no mercado são prejudiciais aos agricultores. A vitória sobre a inflação, conseguida a duras penas desde o plano Real, possibilita uma melhor consciência de um referencial para os preços dos produtos. Embora isto seja um pouco mais difícil no caso dos produtos agrícolas (em função da forte influência do clima, nesta atividade), esta percepção vinha sendo obtida ao longo dos anos, até que a exacerbação dos preços dos insumos e produtos, no ano de 2008, prejudicou esta construção, indicando patamares irreais. O processo reinicia e até que estas referências sejam substituídas por outras mais reais a impressão de preços baixos, no caso dos produtos agrícolas, ainda vai permanecer, embora ela não seja tão real como aparenta.

A questão sobre se o preço do milho está em um nível prejudicial para os agricultores necessita ser analisada em um contexto mais amplo do que apenas a comparação histórica com os verificados em anos recentes. O preço do milho será o resultante de um conjunto de condições que possibilitarão a sua produção ao longo dos anos, incluindo, entre outros, a capacidade gerencial dos produtores, a tecnologia de produção disponível, os custos dos insumos, as variáveis ambientais etc. Em regiões e épocas nas quais estes fatores se mostrem mais favoráveis terão vantagens comparativas e concentrarão a produção ao longo dos anos.