Da Redação 04/09/2003 – A agricultura mundial passa por uma transformação biotecnológica, com o uso das plantas geneticamente modificadas. O advento de uma nova tecnologia tem seus prós e contras, os quais tem gerado grandes polêmicas em muitos países, inclusive no Brasil.
Na corrente dos prós, há os seguintes argumentos: mais produtividade, diminuição do uso de agrotóxicos, aumento na qualidade dos alimentos, desenvolvimento de novas variedades de plantas resistentes a vírus, fungos e a insetos, variedades resistentes a secas e a solo áridos e salinos, entre outros. E na corrente dos contras: aparecimento de novas substâncias com potencial efeito alergênico nos alimentos derivados de plantas geneticamente modificadas, desconhecimento dos impactos ambientais do cultivo extensivo destas plantas, monopólio no controle das sementes pelas empresas detentoras da tecnologia, a questão das patentes e o pagamento de royalites, entre outros.
Entretanto, nas áreas médicas, os benefícios têm sido inquestionáveis, principalmente no que se refere à produção de novos fármacos, no tratamento do câncer e de diferentes doenças genéticas. A unidade básica desta biotecnologia é o gene, e o Brasil possui um dos maiores reservatórios naturais de genes com a sua grande biodiversidade. Assim, temos a matéria-prima, mas não temos as condições de explorá-la plenamente. Ao contrário, os países ricos e industrializados têm uma pequena biodiversidade, mas detêm as condições técnicas e econômicas para explorá-la. Torna-se então de fundamental importância o estabelecimento de uma legislação segura e, principalmente, ética.
O código de ética que está sendo elaborado pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) deve pautar-se na ética dos valores culturais, na ética mercadológica e de direitos dos consumidores e na ética científica. Nesta virada de século, estamos em plena era biotecnológica, que representa um novo paradigma e muitos países já incorporaram a tecnologia dos organismos geneticamente modificados (OGMs), inclusive países em desenvolvimento, como África do Sul, Argentina e Índia.
Outros países, como China, Tailândia e Coréia acreditam que somente poderão aumentar a sua produtividade agrícola adotando o cultivo de variedades geneticamente modificadas, estando bastante adiantados nas pesquisas com o arroz transgênico. Na Índia e África do Sul, o cultivo de algodão transgênico, levou a diminuição do uso de agrotóxicos. Com isso, os casos de intoxicações humanas e contaminações ambientais caíram significativamente.
Mas por quê tanta polêmica? Entre a comunidade científica, questiona-se a quebra de dogmas da natureza, com a formação de organismos, que por métodos naturais nunca se formariam. Entre setores organizados da sociedade, questiona-se a biossegurança. As sociedades em geral, frente a esta questão polêmica, adotaram uma atitude preventiva.
No Brasil, estamos aguardando o desenrolar dos acontecimentos em outros países, que já liberaram o plantio de transgênicos desde 1996. Entretanto, não podemos ficar às margens desta ciência tão poderosa e devemos investir nas nossas instituições como Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa), Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), institutos de pesquisa e nas universidades para deixarmos de ser importadores de pacotes biotecnológicos e, ao mesmo tempo, desenvolver uma biotecnologia de acordo com as nossas necessidades e que seja um instrumento de inclusão e não de exclusão para o agricultor brasileiro.
Cesar Koppe Grisolia é presidente da Sociedade Brasileira de Genética, no Distrito Federal, e professor adjunto do departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília (UnB).
Artigo originalmente publicado no site da Universidade de Brasília (UnB).