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USDA confirma cenário crítico para soja

Produção global da oleaginosa deve cair 10,5%, 236,87 milhões de toneladas, estimou USDA.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) voltou a reduzir sua estimativa para a produção mundial de soja na safra 2011/12 e deu novo impulso aos preços da commodity no mercado internacional.

Em seu relatório mensal de oferta e demanda, divulgado ontem, o órgão estimou a produção da oleaginosa em 236,87 milhões de toneladas, uma redução de 1,3% em relação ao número divulgado em abril e de 10,5% ante a temporada anterior.

A revisão foi, mais uma vez, determinada pelo pessimismo em relação à safra sul-americana, castigada por uma forte estiagem entre dezembro e fevereiro passados. A safra esperada para a Argentina, onde os efeitos da seca foram mais drásticos, foi reduzida para 42,5 milhões de toneladas, uma queda de 5,5% em relação à previsão de abril. Na temporada passada, os argentinos colheram 49 milhões de toneladas. O USDA também reviu para baixo a produção brasileira, de 66 milhões para 65 milhões de toneladas.

Nos Estados Unidos, a preocupação são os estoques de passagem. Segundo o relatório, o volume armazenado em 31 de agosto, quando termina a safra 2011/12, será de apenas 5,72 milhões de toneladas, um corte de 16% em relação à estimativa de março. Os estoques americanos minguaram diante do aumento das exportações do grão para a China, que redirecionou parte de suas compras para os Estados Unidos por causa da quebra da safra sul-americana.

Os números não chegaram a surpreender os participantes do mercado, que haviam antecipado um cenário de maior aperto na oferta. Mesmo assim, os preços da soja reagiram e fecharam o dia em forte alta na bolsa de Chicago. Os contratos futuros com entrega em julho, atualmente os mais negociados, fecharam com valorização de 25 centavos, cotados a US$ 14,5525 por bushel.

Para o analista da corretora Cerealpar, Steve Cachia, o efeito do relatório sobre os preços da soja poderia ser ainda maior não fosse o ambiente hostil ao risco que predomina nos mercados financeiros. “O mercado financeiro até que aliviou hoje [ontem], mas ainda não estão descartados problemas maiores em função da crise econômica na União Europeia”, pondera.

Cachia avalia que a menor previsão de colheita de soja para o Brasil está bem próxima da realidade, mas alerta que a safra Argentina pode ser ainda mais enxuta que as 42,5 milhões de toneladas previstas pelo USDA. “Acredito que a colheita argentina ainda pode cair mais um milhão de toneladas”, afirma.

O USDA também divulgou ontem suas primeiras estimativas para a produção de grãos da safra 2012/13, que começa em setembro no Hemisfério Norte. Embora preveja uma recuperação expressiva na produção, o cenário ainda é de aperto no balanço entre oferta e demanda.

Segundo o órgão, o mundo vai produzir 271,42 milhões de toneladas da oleaginosa, um aumento de 14,5% em relação à safra 2011/12, puxado principalmente pela recuperação da produção de Brasil (para 78 milhões de toneladas) e Argentina (para 55 milhões de toneladas).

Os produtores americanos, que já estão cultivando a nova safra, deverão colher uma safra 4,9% maior, de 87,23 milhões de toneladas. Esse número ainda deve mudar consideravelmente ao longo dos próximos meses, uma vez que ainda não há uma definição sobre o tamanho da área plantada nos Estados Unidos.

Caso se confirme, a expectativa é de que os estoques americanos de passagem da safra 2012/13 sejam ainda menores do que os esperados para este ano: 3,94 milhões de toneladas. “Com esses números, a relação entre estoque e consumo nos EUA cai para apenas 4,4%, o que é um novo recorde de baixa”, afirma Vinicius Ito, da Jefferies Bache.

Se o cenário para a soja preocupa, os números do USDA para o milho reforçaram a expectativa de uma supersafra e preços mais baixos. Segundo o órgão, os EUA deverão colher quase 376 milhões de toneladas do grão na safra que está sendo plantada, um aumento de quase 20% em relação às 314 milhões colhidas no ano passado. Se a projeção se confirmar, os estoques de passagem americanos deverão mais que dobrar, de 21,6 milhões de toneladas, na safra atual, para 47,78 milhões na próxima temporada. Já a produção mundial deve ser até 8,6% superior, atingindo a inédita marca de 945,78 milhões de toneladas.

Embora os estoques de curto prazo sigam apertados, os números pesaram sobre os preços da commodity em Chicago. Os contratos com vencimento em julho cederam 19,75 centavos, cotados a US$ 5,8750 por bushel. Para Cachia, a tendência é que os preços fiquem relativamente firmes no curto prazo, mas comecem a recuar à medida que o cenário previsto para a nova safra americana se concretize. É o que sinalizam os contratos com vencimento mais distante. Ontem, o milho para dezembro fechou a US$ 5,07 por bushel.

Embora tenha previsto uma queda acima do esperado na produção e nos estoques mundiais de trigo na nova safra (ver gráfico), os preços do cereal ficaram praticamente estáveis em Chicago. A avaliação é de que a oferta do cereal ainda estará em patamares confortáveis após a supersafra de 2011/12. “O trigo é o elo mais fraco do mercado de grãos”, afirma Cachia.