Redação (14/05/07) – A produção de milho estimada é recorde, de 316,5 milhões de toneladas, ante 267,6 milhões em 2006/07.
O recorde previsto na produção não surpreendeu o mercado, mas a estimativa de que os EUA deverão utilizar 86,6 milhões de toneladas de milho apenas para produzir etanol ficou acima das expectativas, segundo Paulo Molinari, da Safras&Mercado. Ele afirmou que o mercado trabalhava com as estimativas divulgadas em fevereiro, pelo USDA, que projetavam 81 milhões de toneladas de milho para produzir álcool, já muito acima das 54,6 milhões de toneladas da safra 2006/07, e refletindo a contínua expansão do etanol nos EUA.
Com essa projeção, pela primeira vez o uso de milho para etanol supera a estimativa para as exportações, segundo o USDA. Nesta safra, os embarques dos EUA devem somar 50,17 milhões de toneladas – foram 55,8 milhões de toneladas na safra 2006/07.
As exportações menores dos EUA abrem espaço para as vendas do Brasil, Argentina e Paraguai, segundo o analista Leonardo Sologuren, da Céleres. A previsão do USDA é de que o Brasil exporte 6,5 milhões de toneladas. Para a Céleres, os embarques poderão alcançar 8 milhões de toneladas.
Molinari observou que "para compensar" a demanda maior para etanol, o USDA reduziu o consumo para alimentação animal, para 144,8 milhões de toneladas, ante 148,6 milhões no ciclo passado.
Para Sologuren, os números do USDA indicam que o milho deve voltar à casa dos US$ 4 por bushel em Chicago. Ontem, os contratos da maio, da safra velha, subiram 15,25 centavos de dólar para US$ 3,61 por bushel, enquanto dezembro, da safra nova, fechou com alta de 18 centavos a US$ 3,7425.
Ele lembrou que as recentes quedas na bolsa se basearam na expectativa de uma safra recorde. Mas para que a produção recorde se confirme, o clima terá de ser "ótimo", disse, lembrando que há atraso no plantio nos EUA.
Molinari ponderou que os números não são definitivos e avalia que o USDA foi cauteloso ao prever uma produtividade de 150,3 bushels por acre. "Os dados devem impedir baixas mais agressivas [na bolsa], e o mercado deve ficar ainda mais sensível ao clima nos próximos 90 dias", afirmou.
Outro dado do USDA que fez as cotações subirem foram os estoques finais, de 23,9 milhões de toneladas, para 2007/08, praticamente estáveis, abaixo da média das estimativas dos analistas, de 26,7 milhões de toneladas.
A previsão de redução dos estoques globais finais da soja pela metade – de 16,73 milhões na safra 2006/07 para 8,71 milhões no próximo ciclo – também deu alento ao mercado e motivou uma nova alta nos preços na bolsa de Chicago na sexta-feira. O contrato com entrega em julho subiu 15,50 centavos de dólar, para US$ 7,6175 por bushel. "O relatório refletiu o sentimento do mercado principalmente sobre as perspectivas para estoques globais", observou Flávio França Júnior, analista da Safras.
Renato Sayeg, analista da Tetras Corretora, considerou baixistas as projeções. O cálculo do USDA baseou-se na pesquisa de intenção de plantio e na média histórica de produtividade. "Nos últimos três anos, a primeira projeção foi revista para cima. É provável que esse número seja elevado", disse.
Por conta da produtividade baixa, o USDA projeta a safra americana em 74,71 milhões de toneladas, ante 86,77 milhões no ciclo 2006/07. Para o esmagamento, o departamento prevê aumento de 48,04 milhões para 48,72 milhões de toneladas. A projeção para exportações foi mantida em 29,39 milhões de toneladas. "Essa projeção de redução da safra americana em 13,9% foi uma surpresa. O mercado avaliava a safra em torno de 76,7 milhões de toneladas. O relatório também denota um consumo maior de biodiesel", afirmou.
Sayeg observou que analistas de mercado prevêem um aumento do consumo de biodiesel no país de 13% a 19% A projeção do USDA para este ano é que o consumo no país será de 300 milhões de litros.
Em relação aos números da safra 2006/07, o analista considerou como mudança mais significativa a redução das importações da China em 1 milhão de toneladas, para 30 milhões, o que também provocou aumento na estimativa de estoques globais finais de 61,02 milhões para 61,89 milhões de toneladas. "Este número está subvalorizado. Pelo ritmo de demanda atual, a expectativa é que a China importe 31,5 milhões de toneladas em todo o ano", observou.