Redação (12/03/07) – Depois da seca de 2005 e do baixo preço da soja em 2006, esta safra é apontada como a primeira a dar lucro aos produtores gaúchos, graças, principalmente, ao clima favorável. O valor por saca de 60 quilos, no entanto, poderia ser melhor se a cotação do dólar em relação ao real estivesse mais alta.
O bushel (medida utilizada pela Bolsa de Chicago e que equivale a 27,21 quilos) está com preço acima da média histórica dos últimos 10 anos, que é de US$ 5,95. Ontem, a cotação do bushel para maio (momento da venda gaúcha) estava em US$ 7,59, e a saca de 60 quilos, em R$ 32. O dólar comercial fechou ontem a R$ 2,10.
O maior valor recebido pelos agricultores na comercialização da soja foi em 2004, quando o preço da saca superou os R$ 50. Isto foi possível graças à cotação do bushel, que chegou aos US$ 10,50, e do dólar, próximo a R$ 3.
De acordo com o analista de mercado de soja da Safras & Mercado, Flávio Roberto de França Junior, os preços da soja em dólares na comparação entre 2004 e 2007 não são tão diferentes por causa do prêmio de exportação. Esse valor é acrescentado ou descontado do valor do bushel dependendo de itens como disponibilidade de produto e facilidade de embarque.
– Naquela época, tínhamos problemas de embarque e com a China, por causa da mistura de sementes, o que puxava o valor do bushel cerca de US$ 2 para baixo. Atualmente, o prêmio não está influenciando negativamente no preço – explicou França.
Analistas de mercado chegam a apostar numa produção superior a 9 milhões de toneladas nos 3,868 milhões de hectares cultivados com a oleaginosa no Estado, embora entidades como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por exemplo, estimem uma safra de 8,2 milhões de toneladas.
Para Carlos Poletto, presidente da Cooperativa Agropecuária Mista (Cotrijuí), com cerca de 16 mil produtores associados, a atual cotação do dólar está tirando a oportunidade dos agricultores gaúchos de se capitalizarem.
– Se o dólar estivesse cotado a R$ 2,30, por exemplo, não prejudicaria a política econômica do governo e ajudaria os exportadores. Não só na agricultura, como em outros setores da economia – destacou.
Com cotação do dólar a R$ 2,10, o valor da saca de soja estaria em torno de R$ 35. Na opinião de Marcelo Grunwald, 41 anos, produtor de 250 hectares de soja em Cruz Alta, o dólar mais alto seria essencial para o setor agrícola se recuperar. Na colheita da lavoura que planta em sociedade com o pai, a expectativa é de rendimento aproximado de 45 sacas por hectare.
– Estamos com perspectiva de uma boa safra, e o preço está um pouco melhor do que o ano passado. Mas se o dólar ajudasse, os produtores poderiam obter maior renda, o que seria positivo para todo o setor – frisou Grunwald.