Da Redação 26/08/2003 – Se no primeiro semestre as grandes integrações evitaram fazer estoques de milho à espera de preços mais baixos devido à maior oferta do grão, agora são os produtores e cooperativas que estão pouco interessados em vender. A volatilidade desse mercado – que fez a saca se valorizar cerca de 14% em média, nos últimos 30 dias no Paraná – é que tem provocado esse tipo de comportamento por parte de consumidores e produtores.
Na primeira metade do ano, a expectativa era de preços em queda neste semestre devido ao bom desempenho da safrinha de milho. Com isso, grandes integrações, de uma maneira geral, trabalharam com estoques fixos baixos nos primeiros seis meses de 2003. A Sadia, por exemplo, fechou o semestre com estoque fixo zero. Isso significa que o milho em seus armazéns não tinha o preço fixado, ou seja, ainda pertencia ao produtor ou a cooperativas no fim de junho.
A partir do segundo semestre, contudo, a empresa começou a adquirir milho e hoje de 15% a 20% dos estoques são de produto fixado, segundo Ricardo Fernando, gerente de compras de grãos da Sadia. “O produtor não quer fixar porque o preço começou a subir nas últimas semanas”, afirma.
A valorização no mercado interno se deve ao recente aumento das cotações em Chicago por conta da seca nos EUA e na Europa, observa Flávio Turra, agrônomo da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Desde o início do mês, o contrato de dezembro subiu 11,08% em Chicago. E as condições das lavouras de milho dos EUA continuam piorando. Semana passada 60% estavam em boas condições. Agora são 50%, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
A demanda para exportação também contribui para sustentar os preços domésticos, acrescenta Turra. Conforme levantamento do Cepea, nos 30 dias terminados em 22 de agosto, a saca de milho subiu 17% no transferido do porto de Paranaguá, para R$ 18,65. Até julho, as exportações somaram 1,44 milhão de toneladas, conforme a Secex.
O gerente de compras de outro grande frigorífico acrescenta que os produtores já não estavam muito interessados em fixar preços no primeiro semestre, comportamento que beneficiou a estratégia das empresas de trabalhar com estoques curtos. Ele diz, porém, que “a opção de fixação é do produtor”.
Para Vânia Guimarães, pesquisadora do Cepea, o que permite ao produtor reter ofertas é o fato de estar mais capitalizado. O levantamento do Deral da Secretaria de Agricultura do Paraná sobre a comercialização de milho no Estado dá uma idéia da disposição do produtor em vender. Segundo o Deral, até o dia 18 haviam sido comercializados 6,66 milhões de toneladas de milho de um total de 13,320 milhões entre safra de verão e safrinha produzidos no Paraná.
O volume comercializado é semelhante ao de igual período de 2002 no Estado – 6,7 milhões de toneladas. A diferença é que em 2001/02, a produção foi de 9,7 milhões de toneladas. “A comercialização está mais lenta do que deveria, mesmo para um ano de safra grande”, diz Leonardo Sologuren, analista da Céleres.
Segundo ele, a decisão do produtor de reter o milho levou tradings a buscar o produto no Centro-Oeste na semana passada. Com isso, os preços em Cuiabá (MT), por exemplo, subiram 6,5% na semana, para fechar a R$ 11,50 por saca.
A estratégia de retenção, porém, é arriscada, admitem analistas e produtores. Para Roberto Petrauskas, superintendente comercial da cooperativa Coamo, haverá retenção até que a situação da safra americana se defina, o que deve ocorrer em meados de setembro. Segundo ele, a cooperativa também está fixando preços mais lentamente este ano, acompanhando o ritmo de fixação do produtor.