Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Venda de insumos e máquinas caiu 85% em São Gabriel do Oeste

<p>A crise enfrentada pelos agricultores de São Gabriel do Oeste, a 130 quilômetros de Campo Grande, derrubou em até 85% as vendas das concessionárias de maquinário agrícola e das lojas de defensivos agrícolas instaladas na região.</p>

Redação (14/11/06) – Em um município que se desenvolveu a partir da vocação para o cultivo da soja, a retração na atividade causa prejuízos em cascata que atingem, primeiramente, os produtores e, em seguida, o comércio, os prestadores de serviços, a população e, por fim, toda a economia local.

Gilberto Mosena, diretor comercial da empresa Mosena instalada desde 1979 em São Gabriel do Oeste, com matriz em Campo Grande, e concessionária da linha de maquinário Massey Ferguson na região confirma que as vendas na unidade de São Gabriel do Oeste caíram até 85% nos últimos dois anos, em relação a anos anteriores, devido à crise que forçou a redução nos investimentos dos sojicultores. “Em mais de 25 anos, nunca havíamos enfrentado tamanha crise como a dos últimos dois anos”, comentou.

Mosena explicou que a empresa, que chegou a empregar quase 40 funcionários, foi obrigada a demitir trabalhadores para conseguir se manter enquanto as vendas foram reduzidas a apenas 15%, se comparadas com as realizadas em anos considerados bons para o cultivo da soja, como exemplo, de 2001 a 2003, quando a saca da soja chegou a ser cotada acima de R$ 50,00. Hoje, a unidade da Mosena em São Gabriel do Oeste emprega 16 funcionários, ou seja, a empresa reduziu o quadro de trabalhadores em 60% para enfrentar a crise.

“A redução nas nossas vendas foi terrível. A movimentação que ainda temos é fruto dos trabalhos de assistência técnica e da venda de peças ou, em casos isolados, da comercialização de tratores, por exemplo, para pecuaristas que estão um pouco mais capitalizados”, disse o diretor comercial da empresa.

Nos anos anteriores a 2004, a Mosena em São Gabriel do Oeste revendia, em média, 30 colheitadeiras por safra e, em alguns períodos de bom movimento chegou a comercializar até 48 tratores em um único ano. A partir de 2005, as vendas praticamente foram zeradas. O diretor conta que no ano passado vendeu apenas uma colheitadeira e três tratores. Neste ano, a Mosena no município vendeu apenas dois tratores e amarga a estatística de não ter comercializado colheitadeiras. “A assistência técnica é o que está fazendo a diferença. Os serviços de pós-venda estão garantindo a receita, ainda que reduzida, da empresa”, explicou Gilberto.

Produtores alertaram sobre a crise no campo

Produtores e comerciantes de São Gabriel do Oeste são unânimes em afirmar que a crise na agricultura foi previamente alertada e veio se solidificando nos últimos dois anos até atingir o patamar de atividade inviável para muitos sojicultores que já não possuem renda ou crédito para plantar as lavouras. No mesmo ritmo, as lojas de maquinário e insumos existentes no município vêm sofrendo com a redução nas vendas, conforme exemplifica Gilberto Mosena: “a queda nas vendas foi gradativa. No primeiro ano [2005], as vendas caíram 50% e, neste ano, mais 30% aproximadamente. Estamos no limite. As concessionárias não sobrevivem com esses índices”, afirmou.

O diretor comercial ressaltou ainda que muitos produtores não podem deixar de plantar em virtude dos compromissos já assumidos com bancos e multinacionais, mas, ainda assim, devem plantar a safra 2006/2007 sem perspectivas de melhores cenários. “Não temos como adivinhar quando a sojicultura será melhor. Temos que nos preparar para a possibilidade de o ano de 2007 ser igual a esses últimos dois anos. Se isso acontecer, a agricultura aqui [em São Gabriel do Oeste] vai registrar muita quebradeira”, finalizou.

Como consequência das dificuldades dos produtores, os prestadores de serviços e o comércio do município sofrem com elevados índices de inadimplência nas empresas e torcem, assim como os agricultores, para que o ciclo de alta nas cotações da saca soja, iniciado nas últimas semanas, possa se manter e proporcionar o começo da recuperação do setor. Caso contrário, a próxima safra agrícola deve estampar nova quebra na produção, com significativa redução na área plantada, justamente em um município que se mantém como um dos maiores produtores de grãos de Mato Grosso do Sul.

Liberação do custeio agrícola recuou 75% no município nesta safra
A agência do Banco do Brasil em São Gabriel do Oeste é prova dos reflexos negativos causados pela retração na agricultura. Neste ano, a previsão de liberação de créditos aos agricultores do município para investimentos como a compra de maquinários era de R$ 12 milhões, mas o banco deve emprestar apenas R$ 3 milhões até o final de dezembro. A informação é do gerente da agência, João Batista Medeiros, que confirmou ao Correio do Estado as dificuldades enfrentadas por muitos produtores da região. “A situação é visível no município. Todo o comércio sente o impacto da retração econômica. Nas lojas, os índices de inadimplência são altos e as revendas de maquinários e insumos quase não comercializam nada”, disse.

João Medeiros conta que a procura por créditos também caiu acompanhando a redução da área plantada e as dificuldades dos produtores. Segundo ele, os agricultores não estão investindo em novos equipamentos. “O banco tem sido parceiro desses produtores de São Gabriel do Oeste, renegociando dívidas e flexibilizando (no que pode) para atender a todos os agricultores diante da crise; no entanto, alguns tiveram problemas em obter os créditos, uma vez que o endividamento reduz o acesso aos créditos para custeio da safra”, explicou.

Na prática, os produtores endividados, que não possuem recursos para compra de sementes e adubos para o plantio da safra, ficam também impedidos de acessar os créditos oficiais, via Banco do Brasil, devido às dívidas ou pela falta de garantias solicitadas.

Por outro lado, o gerente do Banco do Brasil ressalta que os agricultores de São Gabriel do Oeste, de maneira geral, têm se esforçado para se manter adimplentes junto ao banco, apesar das frustrações das últimas safras. João Medeiros conta que dos 260 produtores que financiaram o custeio das safras passadas, cerca de 95% renegociaram as dívidas de custeio como forma de adiar os pagamentos e manter o direito de acessar os empréstimos oficiais, importantes para o plantio das lavouras.

Com baixos índices de negatividade, quase 70% dos produtores de São Gabriel do Oeste já negociaram os créditos para custeio desta safra. Ainda assim, a liberação de recursos de custeio, neste ano, deve totalizar R$ 30 milhões no município, enquanto no ano passado foram liberados R$ 40 milhões. A redução do valor é sinalização, segundo o gerente, das dificuldades que muitos estão enfrentando ao plantar e reflete a redução da área plantada no município.

Em relação ao cenário da agricultura, o gerente diz acreditar que “a situação não pode ficar pior”. Neste sentido, ele ressalta que muitos municípios do Estado vão sofrer com a quebra da safra nos próximos anos, se em breve não houver alterações, no mercado da soja, que devolvam a viabilidade da atividade. Como reflexo da inviabilidade do segmento, João Medeiros disse que muitos sojicultores estão migrando para outras culturas, como o plantio de eucalipto, pastagens ou até se incorporando à pecuária de corte. Tudo isso “para fugir da soja”, completou.