Com mais de 80% da safra 10/11 comercializada, os sojicultores mato-grossense dão um passo à frente e adiantam a venda do grão que só será plantado a partir de setembro deste ano, para a safra 11/12. Segundo levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), 12% da soja a ser colhida no próximo ano já foi vendida às tradings. É a primeira vez que isso acontece nos meses de março e abril, em pleno período de colheita e sem ao menos o produtor ter feito o seu planejamento de plantio para a nova temporada.
Otimismo a parte, o sojicultor tem motivos de sobra para avançar na comercialização de um produto que nem ele sabe quando vai plantar, ou quanto plantar. “Os preços realmente estão atrativos e este seria o momento dos produtores travarem custos para a próxima safra, antecipando a comercialização”, diz o superintendente do Imea, Otávio Celidônio. Segundo ele, os preços pagos atualmente nas bolsas internacionais e no mercado doméstico “estão remunerando adequadamente” o produtor.
“A relação de troca também está interessante. Mas é importante que, ao mesmo tempo em que compra os insumos para a próxima safra, vá travando sua margem [de lucro] e fazendo hedge {reduzir risco de preço}. O momento é bom e o produtor tem diversas formas de travar custos para a safra 11/12. Ele tem de avaliar e ver em que perfil melhor se encaixa”, frisa.
Há informações de que os preços dos fertilizantes estão sendo reajustados, daí a pressa do produtor em adiantar a venda da soja futura para assegurar uma remuneração adequada frente a uma possível elevação de custos. “O momento é oportuno [para adiantar as vendas de soja], sem dúvida”, completa o diretor administrativo da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja/MT), Carlos Henrique Fávaro.
Cautela – Mas lembra que o produtor deve ter cautela. “Ele tem de aproveitar o momento e vender. Mas não pode travar grandes volumes, mesmo porque se o mercado melhorar no futuro, ele pode perder a oportunidade de vender por uma média de preços maior. Por outro, lado, existe também a possibilidade de os preços caírem e ele também perder se deixar de fazer a venda agora”.
A recomendação, na avaliação de Favaro, é simples: “Os produtores devem fixar preços com base em uma análise – bem feita – dos custos de produção, aproveitando os momentos de alta e fazer vendas menores”. A ordem é ter máxima cautela e estar atento também à trajetória do dólar, que está desvalorizado e aponta para o aumento dos custos do frete aos portos. “Não dá para vender tudo de uma vez”, pondera.
Favaro se diz surpreso com o movimento do mercado no momento em que a safra sequer começou a ser planejada. “É a primeira vez que vejo isso ocorrer em Mato Grosso {venda antecipada ainda no mês de março], sendo que a safra nem começou a ser de fato planejada”.
Este movimento se deve ao bom comportamento dos preços no mercado interno e nas Bolsas internacionais, onde as cotações continuam favorecendo os negócios. Na safra passada, de acordo com a Aprosoja/MT, o percentual de 12% de soja vendida só pôde ser observado no mês de maio.
Cotações – Nas principais regiões produtoras do Estado, os preços estão acima da média histórica. Em Campo Verde, os compradores ofertaram R$ 36,50 pela saca de soja. Em Canarana o preço da soja foi mantido pelo produtor em R$ 40/saca. Em Primavera do Leste, a cotação atingiu R$ 37. Em Sapezal, foram indicados preços de R$ 36,50/saca e, em Lucas do Rio Verde, e R$ 34,60.