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Venezuela também terá o seu "cerrado"

<p>Projeto de produção de soja no país pretende tornar-lo auto-suficiente na produção do grão.</p>

Redação (19/08/2008)- O Grupo Campo, o mesmo que liderou o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Prodecer), considerado o divisor de águas na expansão da soja no Centro-Oeste brasileiro, vai trabalhar em um projeto de produção de soja na Venezuela que pretende tornar o país auto-suficiente na produção do grão. A programação prevê início do plantio na safra 2009/10, em área de 50 mil hectares. Em cinco anos, a área deverá ser ampliada para 500 mil hectares, que equivale à área ocupada pela soja no Estado de São Paulo. 

O modelo na Venezuela será o mesmo adotado nas áreas do cerrado brasileiro ocupadas pela soja. O Grupo Campo coordena toda a parte técnica da produção e também atrai produtores e cooperativas para ocupar as terras – produtores venezuelanos e brasileiros participarão do projeto. O plantio ocorrerá em áreas do governo e em propriedades que serão desapropriadas, sempre de acordo com as coordenadas técnicas do grupo.

"Queremos fazer na Venezuela o mesmo que fizemos com o Prodecer no Brasil", diz o presidente do Grupo Campo, Emiliano Botelho. Os detalhes do projeto deverão ser acertados no fim deste mês, quando uma missão do governo venezuelano virá ao Brasil. 

As áreas de plantio serão concentradas em propriedades de pequeno e médio portes, segundo Álvaro Orioli, diretor-geral do grupo. A prioridade do projeto será para o plantio de soja, mas, com o tempo, outras culturas deverão ser contempladas . "Elas serão necessárias para a rotação de culturas", diz. O valor do investimento no projeto ainda não foi definido, segundo ele. 

A Embrapa entrará como responsável pela parte científica do projeto, dentro do qual estão atividades como a pesquisa de sementes para o plantio. A empresa inaugurou em março um escritório na Venezuela, e técnicos da estatal já trabalham em Caracas. De 2006 a 2007, a produção venezuelana de soja, ainda bastante embrionária, passou de 5,6 mil toneladas para 23,8 mil toneladas. Na safra 2007/08, o Brasil produziu cerca de 60 milhões de toneladas. 

O intercâmbio da Venezuela com a sojicultura brasileira tem ganhado corpo. Em maio, as maranhenses Sementes Ribeirão e Sementes Cajueiro venderam 1,8 mil toneladas de semente do grão (uma transação de US$ 3 milhões) para o país vizinho, em negócio que foi costurado depois da visita do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao Estado, ocorrida em março. 

Em outros segmentos ligados ao agronegócio o intercâmbio também tem ganhado musculatura. De 2006 a 2007, as exportações de máquinas agrícolas para o mercado venezuelano cresceram 26,1%, para 2,4 mil unidades, o que faz da Venezuela o terceiro maior destino das máquinas agrícolas brasileiras vendidas ao exterior – os líderes nesse ranking são Estados Unidos e Argentina. No mesmo intervalo, as exportações totais cresceram 21,4%, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). 

A Venezuela, que deverá concentrar o plantio nos Estados de Anzoátegui e Monagas, tem áreas bastante similares às de cerrado do vizinho Estado de Roraima, que é formado por 28% de cerrados. O interesse dos venezuelanos pela soja é principalmente para a produção de farelo para abastecer a crescente indústria de carnes suína e de frango do país, afirma Emiliano Botelho. 

De acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção de carne de frango deverá crescer 5% neste ano em comparação com 2007, para 860 mil toneladas. A produção brasileira em 2007 foi de 10,3 milhões de toneladas. 

O Grupo Campo, que completa 30 anos de vida em 2008, é formado por capital brasileiro e japonês. O lado brasileiro, reunido sob a holding Brasagro, é dividido entre recursos do Tesouro e da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), segundo Botelho. A fatia japonesa da companhia tem dinheiro do governo e também de um pool de empresas reunido na holding Jadeco e que inclui, entre outras, a Mitsubishi.