Os paraguaios fazem questão de mostrar que o patriotismo está em alta. Na capital, Assunção, os prédios históricos, acinzentados, estão “coloridos” com bandeiras.
As comemorações pelos 200 anos de independência se espalham pelo país. No campo, a festa este ano é dupla. Além dos festejos pelos 200 anos da independência, o Paraguai também comemora uma safra recorde.
A agricultura paraguaia é variada. Nos campos têm milho, trigo, girassol, canola, mas é a soja que ocupa a maior área.
O país vizinho é o quarto maior exportador mundial de soja, atrás dos Estados Unidos, do Brasil e da Argentina.
Os silos espalhados pelo Paraguai estão cheios de soja, a colheita terminou há pouco mais de dois meses. O governo paraguaio ainda não terminou o levantamento, mas a previsão é que esta seja a maior safra da história com mais de oito milhões de toneladas.
O assessor da Câmara Paraguaia de Exportadores de Grãos, Luis Cubilla, explica que a área de plantio não tem aumentado muito, o que tem feito diferença é o uso da tecnologia em todos os pontos. “Há melhora na qualidade do solo, nos níveis de fertilização, ano a ano, e isso fez com que aumentasse a produtividade nos campos”.
E se a riqueza paraguaia dá em grãos com cor de ouro, esse reinado tem dono. De cada 100 quilos de soja produzidos no país, dois pertencem ao senhor Tranquilo Favero, o Rei da Soja do Paraguai.
Favero é um dos 300 mil brasileiros que vivem hoje em solo paraguaio, são os chamados brasiguaios. “Eu sempre pensei: roupa, veículo, sapato, avião, de tudo isso necessitamos, mas podemos sobreviver sem eles. Não deixa de ser um pouco supérfluo, mas a comida não, quem é a pessoa que pode viver sem comida?”
Encontrar agricultores paraguaios é uma tarefa difícil. Juan Alderete é um dos poucos paraguaios que tem terras na região do município de São Alberto, a quase 100 quilômetros da fronteira. Ele planta trigo, soja e cria gado. O produtor tem 60 cabeças e cultiva quase 200 hectares de soja, agora, com milho safrinha. A perspectiva é de uma boa produção para esse ano.
A fertilidade do solo valorizou as terras. Quase não se acha mais para vender. “Está valendo US$ 30 mil por alqueire,” conta Juan.
Com mais da metade da produção agrícola do Paraguai nas mãos de brasileiros e descendentes, os conflitos têm sido frequentes no país. Na fronteira com Mato Grosso do Sul, várias famílias foram expulsas das terras e aguardam assentamento no Brasil. Na fronteira com o Paraná, a situação também é tensa.
O ministro da Agricultura do Paraguai, Enzo Cardoso, afirma que o governo tem interferido nos conflitos entre brasiguaios e campesinos, os sem-terra do Paraguai, e dá garantias: “Aquele cidadão paraguaio ou estrangeiro que quer investir no Paraguai deve pagar os impostos, deve ter o título da terra, cumprir com suas condições de contribuintes e ninguém vai lhe incomodar”.
Com a persistência dos paraguaios que não quiseram abandonar o campo e com a coragem dos brasiguaios desbravadores, o Paraguai comemora os 200 anos de independência como uma potência agrícola.