Importadores e representantes da indústria afirmaram que as importações chinesas de óleo de soja argentino parecem ter desacelerado depois que o governo chinês começou a aplicar controles de qualidade mais rígidos e a colocar o licenciamento das importações nas mãos de autoridades centrais.
A China impôs as novas medidas em 1º de abril, afirmando que o óleo argentino continha traços de solventes em nível mais alto que o aceitável. Autoridades argentinas defenderam a qualidade de seu óleo. A Argentina afirma que a China está retaliando por causa de restrições comerciais impostas por Buenos Aires sobre importações manufaturadas, no ano passado, durante a crise financeira mundial.
“Os chineses estão enviando um sinal muito claro” sobre a percepção de protecionismo argentino, afirma Dante Sica, diretor da consultoria econômica ABECB, de Buenos Aires.
O impacto das medidas pareceu não ser uniforme, com alguns traders de commodities argentinos dizendo ontem que os negócios com a China estavam normais. Autoridades chinesas disseram que quaisquer interrupções no comércio eram decorrentes de importadores terem feito os pedidos por meio de canais ultrapassados.
Já há conversas em escalões mais baixos para se apresentar uma resolução, informou Ernesto Fernández Taboada, diretor executivo da Câmara de Comércio Argentino-Chinesa em Buenos Aires. Funcionários do Ministério da Agricultura retornaram à Argentina ontem, depois de conversas em Pequim.
Analistas disseram não acreditar que a pendência dure muito, porque os países compartilham de uma dependência mútua no que diz respeito ao óleo de soja. A Argentina conta com a China para absorver quase metade de suas exportações da commodity, e está prevendo um grande aumento de produção este ano. A China recebeu 77% de seu óleo de soja importado no ano passado da Argentina. “Cada país precisa do outro, e não quer que isso saia do controle”, diz Gustavo López, diretor-geral da consultoria Agritrend, de Buenos Aires.
A China não tem como encontrar facilmente um substituto para a produção argentina e não quer correr o risco de alimentar a inflação, que pode decorrer de um corte no fornecimento da Argentina, diz Liao Kegong, diretor do departamento de compra de matéria-prima interna da Cofco Ltd., a maior trader de óleo e grãos da China.
O relacionamento econômico entre os dois países aumentou na última década graças à expansão da economia chinesa e ao aumento da produção agrícola argentina. As exportações à China ajudaram a alimentar a recuperação da Argentina, que passou por uma severa depressão econômica em 2002.
Mas nos últimos anos a indústria argentina tem sido pressionada a competir com um aumento das importações de produtos fabricados na China. A balança comercial da Argentina com a China passou a deficitária em 2008. O déficit se ampliou em 2009.
Em março de 2009, numa tentativa de preservar a indústria e o câmbio, a presidente argentina, Cristina Kirchner, impôs medidas antidumping, um mecanismo que permite aos governos aplicar tarifas quando acreditam que as importações são vendidas a preços abaixo dos níveis normais de mercado. A disputa relativa ao óleo de soja é o mais novo episódio no relacionamento. Pela nova regra chinesa, todas as importações de óleo de soja da Argentina requerem aprovação prévia do Escritório Administrativo de Cotas e Licenças do Ministério do Comércio, em vez das sucursais do ministério nas províncias.
Ricardo Baccarin, vice-presidente da trading de commodities Panagricola, de Buenos Aires, disse que se a China passar a comprar óleo de soja dos Estados Unidos e do Brasil não conseguirá o suficiente para satisfazer a demanda. “Os EUA e o Brasil juntos podem fornecer apenas 70% do que a Argentina pode exportar”, afirmou.