Brasil e Estados Unidos veem “boas chances” de chegar à assinatura de um acordo de cooperação econômica e comercial em 2010 visando à reestruturação de suas relações bilaterais. “A ideia é vender mais, o acordo é amplo e qualquer coisa pode entrar”, afirmou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ao receber o principal negociador comercial americano, Ron Kirk, ontem (29/11) à noite em Genebra.
Está marcada uma reunião no dia 9, em Brasilia. Segundo Amorim, as negociações podem avançar porque os EUA gostaram do modelo proposto por Brasília, que é semelhante ao que o país fechou com a Suíça.
A expectativa brasileira é que o acordo inclua promoção de investimentos (ao invés da tradicional proteção de investimentos), facilitação de comércio, cooperação tecnológica entre empresas, a questão da bitributação, etanol, entendimento na frente fitossanitária para prevenir barreiras agrícolas e até a sensível área de patentes.
Após 30 minutos de discussão com Kirk, Amorim disse que o comércio poderá ser ampliado sem necessariamente envolver o Mercosul, na medida em que não se tocar na Tarifa Externa Comum (TEC) do bloco. De janeiro a outubro de 2009, os EUA foram o segundo mercado para as exportações brasileiras (US$ 12,9 bilhões), atrás da China (US$ 17,7 bilhões). No lado das importações, o Brasil comprou mais dos EUA (US$ 16,8 bilhões) do que de China (US$ 12,8 bilhões), Argentina (US$ 9 bilhões) e Alemanha (US$ 8 bilhões).
A reunião de Amorim com Kirk ocorreu horas após o brasileiro ter desafiado os americanos a voltar à mesa de negociação na Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC). “Estamos prontos para o jogo, agora resta aos outros responderem”, disse, mencionando “um país em particular que faz com que as coisas sejam lentas”.
O Brasil reuniu os diferentes grupos de países em desenvolvimento, representando dois terços dos membros da OMC, e a mensagem generalizada foi de que querem uma reunião ministerial no início de 2010 para avaliar o que está dando errado em Doha – uma maneira de aumentar a pressão sobre os EUA.
Segundo Amorim, a conversa com o americano foi “agradável”, e nela Kirk reiterou que os EUA acreditam ser possível concluir Doha em 2010. “A questão é como”, disse. Indagado se os EUA aceitam examinar o estado calamitoso de Doha no começo de 2010, Amorim respondeu: “Não sei”. Em comunicado sobre o encontro com Amorim, a delegação de Kirk disse que Washington vem destacando que é necessário que os principais emergentes, incluindo o Brasil, abram mais seus mercados para que Doha continue. A conferência da OMC terá uma centena de ministros, mas está esvaziada por causa de Doha. “O que me importa é o G-20. Se o resto está esvaziado, não me importa”, disse Amorim.