Depois de negá-la durante todo o mês de junho e grande parte do mês corrente, a Rússia finalmente assumiu sua estratégia de usar as importações de carne para pressionar o Brasil a apoiá-la na intenção de ingressar na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O negociador russo do acesso na entidade global, Maxim Medvedkov, ao anunciar que seu país vai reduzir sua cota de importação de frango em 28,5%, e de suíno, em 32,2%, no próximo ano, foi claro ao justificar a medida como pressão sobre os países exportadores que não deram apoio à sua entrada na OMC. E deixou claro que esses percentuais podem ser ainda mais elevados caso se prolongue a indecisão sobre o acesso russo na OMC.
Assim, cai por terra o argumento de que problemas sanitários dos frigoríficos seriam a causa do embargo da Rússia à carne brasileira. Produtores, frigoríficos e entidades ligadas ao setor da carne tinham alertado para uma retaliação política, e o governo brasileiro também havia apontado o viés político como principal motivo do embargo. No entanto, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fez a lição de casa. Pegou todos os problemas sanitários elencados pelos russos e apresentou solução. Desta forma, nosso principal parceiro no setor pecuário ficou sem argumento. Mesmo assim, protelou até agora o fim do embargo, sob a alegação de que precisava analisar os documentos levados no dia 5 deste mês a Moscou por uma missão do governo brasileiro.
Mas é preciso que o Brasil tome uma atitude mais firme com os russos. Afinal, estão usando um expediente que vai contra tudo aquilo que faz da OMC uma entidade fundamental para as relações comerciais globais.
Precisamos endurecer com Moscou, tomando medidas, dentro das regras do comércio internacional, para mostrar que intimidações como essas não são a melhor forma de se manterem parcerias comerciais. Essa atitude também põe em dúvida a solidez dos negócios com os russos. Afinal, absolutamente nada garante que medidas semelhantes não serão tomadas no futuro, mesmo que o Brasil dê a sua chancela para a entrada dos russos na OMC. Confiança é um dos principais quesitos nas relações comerciais entre países, e ela já não existe mais.