O novo presidente paraguaio Horacio Cartes, que tomou posse ontem (15), poderá visitar o Brasil em novembro. A viagem está sendo articulada por empresários paraguaios e brasileiros, e Cartes apresentaria as vantagens comparativas de se produzir industrialmente no país em um encontro em São Paulo, a principio na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Um mês antes, Cartes deverá se reunir em Assunção com um grupo de 150 empresários brasileiros. Alguns deles, como Marcelo Odebrecht, da Construtora Norberto Odebrecht, e Roberto Setúbal, do Banco Itaú, são aguardados para a cerimônia de posse de Cartes.
É por meio de alianças empresariais que o novo presidente, dono de um conglomerado de 26 empresas das quais a principal é uma fábrica de cigarros, pretende contornar o impasse que bloqueia a participacao política do Paraguai no Mercosul. O novo presidente pretende iniciar seu mandato fixando a imagem de um governo disposto a grandes concessões para atrair investimentos estrangeiros. No ano passado, o fluxo de investimentos estrangeiros foi de apenas US$ 118 milhoes, muito inferior aos US$ 382 milhoes registrados em 2011.
Amanhã, Cartes realiza um café da manhã no Banco Central com 450 empresários convidados, sendo 150 estrangeiros. Logo depois, dará uma entrevista coletiva para a imprensa internacional, ignorando a mídia local.
O Paraguai segue isolado no plano internacional e há dúvidas sobre a solidez do apoio político interno ao novo presidente. Apenas seis chefes de Estado prestigiam a posse do novo governo.
Cartes se reuniu na terça à noite com a presidente brasileira, Dilma Rousseff, em um encontro privado em sua casa. Hoje, Cartes realiza um almoço com os poucos chefes de Estado que aceitaram o convite para assistir ao evento e deve conversar, de forma reservada, com a argentina Cristina Kirchner e o uruguaio José Mujica. Também devem participar do encontro os presidentes do Chile, Sebastián Piñera, e do Peru, Ollanta Humala. O outro presidente presente na posse, o de Taiwan, Ma Ying Jeou, não deve comparecer.
O Paraguai está suspenso do Mercosul desde junho do ano passado, quando o Congresso do país destituiu de forma sumária o então presidente, Fernando Lugo. Dias depois, em uma cúpula em Mendoza, Brasil, Argentina e Uruguai promoveram o ingresso da Venezuela como membro pleno do bloco, algo que vinha sendo obstruído pelo Congresso paraguaio havia seis anos.
A Venezuela atualmente exerce a presidência temporária do Mercosul, e o presidente venezuelano, Nicolas Maduro, sequer foi convidado para a posse do paraguaio.
Na última reunião de cúpula do bloco, em Montevidéu, os países do Mercosul decidiram encerrar a suspensão paraguaia a partir da posse de Cartes. Mas o novo dirigente, em uma nota oficial, afirmou que o Paraguai só voltará a participar das reuniões políticas do Mercosul no próximo ano, quando a Venezuela passar a presidência para a Argentina.
Com o fim da suspensão, em tese, o Mercosul terá que esperar o aval paraguaio para validar decisões que venha a tomar, entre elas qualquer proposta que venha a ser feita à União Europeia, bloco com o qual o Mercosul tenta avançar as negociações para um tratado de livre comércio.
Cartes pertence ao Partido Colorado, que ocupou a Presidência por 60 anos, até perder as eleições de 2008, minado por divisões internas. Na oposição, o partido se unificou em torno de Cartes, que usou seu poder econômico para fomentar a união. Ele optou por um ministério técnico, de pouca expressão política. No Paraguai, o centro do poder está no Congresso, que não apenas pôde realizar o impeachment de um presidente em 48 horas, como é um dos únicos no mundo em que os parlamentares podem criar despesas correntes para o governo no Orçamento sem cobertura de receitas.