O setor da avicultura tem apresentado um bom desempenho, impulsionado tanto pela recuperação econômica quanto pelos programas governamentais de auxílio à renda.
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as projeções iniciais indicam um crescimento superior a 3% no consumo per capita de carne de frango em 2023, alcançando a marca de 46,3 quilos por pessoa, comparados aos 45,2 quilos registrados em 2022.
Esse cenário promissor também é fortalecido pela expectativa de um novo recorde nas exportações, prevendo-se que as vendas externas superem 5,2 milhões de toneladas neste ano.
Nos primeiros seis meses do ano, as exportações brasileiras de carne de frango, incluindo as opções in natura e processada, atingiram um total de 2,629 milhões de toneladas, representando um aumento de 8,5% em relação ao mesmo período de 2022. Esses números demonstram a resiliência e competitividade do setor avícola nacional, consolidando-o como um importante protagonista no mercado interno e internacional.
A receita acumulada ao longo do primeiro semestre alcançou US$ 5,168 bilhões, total que supera em 9,3% os números acumulados em igual período do ano passado, de US$ 4,728 bilhões.
No levantamento por país, a China segue como principal destino, com 390,7 mil toneladas importadas entre janeiro e junho, superando em 33% o resultado alcançado no primeiro semestre de 2022.
Em seguida vêm o Japão, com 219,8 mil toneladas (+8,5%), Emirados Árabes Unidos, com 200,1 mil toneladas (-18,3%), África do Sul, com 189,7 mil toneladas (+16,5%), e Arábia Saudita, com 176,8 mil toneladas (+8,4%). Entre os Estados que mais exportam, o Paraná segue na liderança, com 1,090 milhão de toneladas, 11,1% acima do registrado no primeiro semestre de 2022.
No segmento, as medidas restritivas são variadas e geralmente se relacionam à proteção do próprio mercado, como o regramento que a União Europeia impõe para a importação do produto avícola do Brasil. “Mas há baixos efeitos sobre o desempenho geral das exportações, que seguem em patamares recordes”, diz Ricardo Santin, presidente da ABPA.
A gripe aviária traz preocupações. Um dos efeitos do registro da doença no Brasil em junho foi a suspensão temporária dos embarques para o Japão de produtos partindo do Espírito Santo, após a ocorrência de um caso da influenza em uma criação caseira no município de Serra. O Estado tem uma parcela de apenas 0,19% do total exportado pelo Brasil, mas como impacto está um prejuízo à imagem do produto brasileiro no exterior.
“Como líder mundial nas exportações de carne de frango, o Brasil, que exporta para mais de 145 países, tem negociado melhores condições para atuação em mercados como Índia (que aplica tarifas que inviabilizam os embarques) e Indonésia (sobre o qual movemos e ganhamos painel na Organização Mundial do Comércio, mas que ainda permanece fechado)”, diz Santin.
Apesar do bom momento, a avicultura ainda enfrenta as consequências de anos de custos de produção elevados. Embora hoje estejam em patamares mais baixos, o preço do milho e do farelo de soja, usados na ração das aves, acumularam entre 2020 e 2022 altas superiores a 150%, e se somaram a outros problemas, como a alta do diesel, do papelão, do polietileno e outros insumos.
“A situação está um pouco mais favorável, mas os efeitos das recentes quedas no preço do milho e do farelo ainda demorarão a ser sentidos, uma vez que os estoques utilizados hoje para alimentar os animais foram adquiridos anteriormente”, esclarece Santin.
Para o Grupo GTFoods, há 30 anos no mercado e que tem entre suas marcas a Mister Frango, o ano após uma eleição presidencial é um período de cautela no consumo, o que gera diminuição de demanda. Os preços dos cortes de frango caíram mais de 20% desde o final do ano passado até agora.
“Este ano começou com pouco giro de gôndola, poucas compras no mercado, mas esse cenário vem se ajustando. Os principais produtos comercializados por nós, nos mercados interno e externo, foram filé de peito, coxa e sobrecoxa. O grande desafio deste ano para a avicultura brasileira é a gripe aviária. Então as empresas que já faziam um trabalho de prevenção, como a GTFoods, redobraram esses cuidados, e o setor trabalha em conjunto para que a doença não se alastre”, diz Rafael Tortola, CEO da empresa.
Para João Campos, CEO da Seara, empresa do grupo JBS e líder na exportação de frango, o ano de 2022 foi desafiador em razão da forte variação do preço das commodities agrícolas.
“O cenário se modificou em 2023, crescemos 9% em receita líquida no primeiro trimestre deste ano, resultado puxado pelo mercado doméstico, com destaque para a alta de 13% em vendas de alimentos preparados. Temos como prioridade reforçar cada vez mais nosso portfólio de valor agregado. Nessa linha, inauguramos, em março, a maior e mais automatizada unidade da JBS para a produção de empanados de frango na cidade de Rolândia, no Paraná, com investimento de R$ 1 bilhão.”
Neivor Canton, presidente da Aurora Coop, também define o momento atual como desafiador. “No mercado interno, a queda de renda das famílias provocada pela taxa de desemprego e outros fatores inibem a ampliação do consumo. Os custos logísticos e de produção continuam elevados.
No mercado externo, apesar do volume recorde de vendas – a Aurora exporta aproximadamente 38 mil toneladas de carnes de aves por mês –, os preços praticados recuaram em razão da elevada oferta de proteína animal. A associação dessas condicionantes conduz a uma situação de margens negativas.”
Segundo Canton, no mercado interno a questão logística impacta fortemente os resultados, em consequência das deficiências de infraestrutura (rodovias, portos, entrepostos etc.), além dos custos de produção e da alta carga tributária. “Essas deficiências acabam reduzindo a competitividade dos produtos brasileiros no exterior.”
Apesar desses fatores, o presidente da Aurora diz acreditar que o quadro deve mudar neste semestre, com o aumento das vendas no mercado doméstico e a recuperação de preços no mercado internacional.