A União Europeia (UE) registrou 783 focos de enfermidades animais em 2010, enquanto no Brasil apenas três surtos foram notificados no ano passado, o que reflete um estado sanitário inquietante da pecuária do velho continente.
Este ano, a União Europeia já viu surgir casos de febre aftosa no rebanho, depois de ter enfrentado novos focos de doenças como a da “vaca louca”, a língua azul e a gripe aviária em 2010, que a rigor deveriam ser motivo para fechamento de mercados.
A imposição de requisitos sanitários cada vez mais rígidos na Europa parece ser mais por conta da própria situação da pecuária local do que em razão de riscos decorrentes da importação de produtos de outros países, apesar de campanhas de produtores europeus argumentarem com o contrário.
Os países mais atingidos pelas enfermidades são a Itália, com 284 focos, e a Espanha, com 138. Mas os surtos se espalham pelo velho continente, inclusive na Irlanda, onde sempre surgem acusações contra a carne brasileira.
Até hoje a Europa enfrenta novos focos de doença da “vaca louca”, o nome popular da encefalopatia espongiforme bovina (ou BSE, na sigla em inglês), uma doença degenerativa que atinge o sistema nervoso central do gado adulto, é transmissível e progride lentamente, podendo afetar também seres humanos.
Discretamente e sem abordar muito o problema, a UE notificou mais 44 focos de “vaca louca” – no ano anterior, foram 71. Um foco pode representar um ou mais animais afetados. Este ano, mais cinco focos foram divulgados.
O número tende a continuar baixando, mas, em parte, artificialmente. É que a Comissão Europeia decidiu mudar a idade de controle de bovinos a partir de julho deste ano. O regulamento atual determina que a partir da idade de 48 meses o animal deve ser testado para a doença da “vaca louca”. Agora, a idade passará para 72 meses, o que indica um relaxamento do controle.
Analistas em Bruxelas concordam que a Europa não vai conseguir erradicar pelos próximos 10 a 20 anos a infecção, apesar dos investimentos feitos até agora.
A Europa continua sofrendo também com a epidemia doença da língua azul. O numero de focos da infecção foi de 1.116 em 2009 e baixou para 176 no ano passado. Em comparação, o Brasil só teve um caso notificado oficialmente: um cervo de zoológico, sem finalidades comerciais.
A doença com mais focos na Europa é a anemia equina, com 200 em 2010. Houve ainda 160 focos de encefalomielite equina.
O velho continente registrou também nove casos de peste suína africana, um deles em javalis. Surgiram outros quatro focos de doença vesicular de suínos.
Em decorrência desse cenário, a demanda europeia para poder exportar carne suína ao Brasil parece estar fora de questão. Segundo fontes, Brasília não tem como aceitar o pedido diante do quadro sanitário do rebanho europeu.
Por sua vez, a UE proíbe a entrada total da carne suína brasileira, não por razões sanitárias e sim causa de resíduos de um aditivo alimentar (ractopamina) usado pelos produtores brasileiros para ganho de eficiência na produção e que contaria com o respaldo técnico do Codex Alimentarium da Organização Mundial da Saúde e da FAO.
Quanto às aves, a Europa registrou inclusive a grave gripe aviária, com dois focos em animais de granja na Romênia e um em aves selvagens na Bulgária.
Igualmente foram notificados seis surtos da doença de Newcastle, altamente contagiosa que afeta aves domésticas e selvagens. A enfermidade está entre as que leva países a fecharem seus mercados à carne de frango de países afetados.
Este ano, de 42 novos focos de doença, Bruxelas notificou a volta da febre aftosa, doença viral altamente contagiosa, na Bulgária. Foram quatro casos, atingindo bovinos, caprinos, ovinos e suínos.
Ao mesmo tempo, a UE mantém a exigência de rastreabilidade para a carne bovina do Brasil, que registrou o último caso de febre aftosa no fim de 2005.
Na comparação, o Brasil em 2010 só notificou três focos de enfermidades em animais em geral, apesar de seu enorme rebanho para fins comerciais. Além da doença de língua azul, houve um foco de estomatite vesicular em bovinos e outro de mormo, em equinos, segundo fonte.