A lucrativa exportação de carne suína da União Europeia (UE) para a China está sob ameaça devido a novos impostos de importação e outras restrições. A China iniciou uma investigação anti-dumping sobre a carne de porco importada da UE, em aparente retaliação aos direitos de até 38,1% sobre veículos elétricos (VE) fabricados na China.
A investigação se concentrará na carne suína destinada ao consumo humano, incluindo cortes inteiros frescos, frios e congelados, além de intestinos, bexigas e estômagos de suíno. Esses produtos são de especial interesse para a indústria suína da UE, pois quase não têm mercado na Europa.
“Uma suspensão total das exportações de carne suína da UE para a China seria um cenário de pesadelo para a cadeia de abastecimento de carne suína, com implicações em toda a UE,” afirmou Justin Sherrard, estrategista global de proteína animal do Rabobank. Em 2023, a UE foi responsável por mais da metade dos cerca de US$ 6 bilhões em carne de porco importada pela China. As restrições chinesas poderiam afetar particularmente Espanha, Países Baixos e Dinamarca, que exportaram mais de US$ 2,6 bilhões em carne suína e seus subprodutos para a China em 2023. Outros grandes exportadores incluem França, Alemanha e Bélgica, embora as importações da Alemanha estejam suspensas devido aos surtos de Peste Suína Africana.
Retaliação e Acusações
O Ministério do Comércio da China anunciou oficialmente a investigação após reclamações da China Animal Husbandry Association (CAHA) sobre práticas comerciais desleais da UE. Rumores sobre a retaliação chinesa contra a política de veículos elétricos da UE já circulavam na mídia local. A CAHA acusa a UE de dumping, afirmando que grandes quantidades de carne suína a preços baixos impactam negativamente a indústria chinesa de carne suína e o setor agrícola. “Nos últimos anos, a União Europeia tem despejado grandes quantidades de carne suína e subprodutos a preços baixos na China, prejudicando a indústria local,” afirmou a CAHA, acrescentando que a UE concede “subsídios maciços” ao seu setor suinícola.
Reação da Comissão Europeia
A Comissão Europeia não está preocupada com a investigação anunciada pela China, afirmou um porta-voz. Bruxelas acompanhará de perto o procedimento para garantir que ele seja conduzido de acordo com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). Embora reconheça os subsídios ao setor agrícola, a Comissão enfatiza que essa política está em conformidade com os regulamentos da OMC.
Agricultores no Fogo Cruzado
O organismo industrial europeu Copa Cogeca considera inaceitável que os agricultores sejam apanhados no fogo cruzado de disputas comerciais de outros setores. “Não existem práticas anti-dumping reais atribuíveis ao nosso setor de carne suína na Europa, mas somos obrigados a participar nesta investigação, que é dispendiosa e provavelmente levará à perda de mercado na China,” comentou Patrick Pagani, diretor-geral do Copa Cogeca. O organismo industrial espanhol Interporc apelou a negociações em vez de uma guerra comercial: “Esperamos que a relação entre a UE e a China continue positiva e estamos trabalhando para garantir isso,” afirmou um porta-voz.
Enquanto a investigação estiver em curso, os produtores europeus de carne suína poderão continuar a exportar para a China isentos de tarifas, aguardando a decisão e o anúncio tarifário das autoridades chinesas.