O protecionismo no Hemisfério Norte impede um crescimento mais forte das exportações brasileiras de ovos, segundo integrantes do segmento. Os mercados americano e europeu continuam fechados, apesar da escassez da proteína causada pelos abates sanitários, feitos para evitar a propagação da gripe aviária.
“Nós já estávamos negociando com o mercado americano, mas não é um acordo que sai do dia para a noite, a menos que haja uma emergência e eles abram uma cota”, diz Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Segundo ele, a dúzia do ovo está sendo negociada por US$ 8 (quase R$ 40 no câmbio atual) na Califórnia. “E eles ainda estão na metade do inverno”, afirma o dirigente.
De acordo com a ABPA, o Brasil exportou apenas 0,4% das 52 milhões de unidades produzidas no ano passado, ou 9,48 mil toneladas de produtos in natura e processados, volume 16,5% menor que o de 2021. Neste ano, a produção deve encolher 2%, a 51 milhões de unidades, e os embarques podem crescer até 10%, para 11 mil toneladas. “A tendência é que os embarques aumentem, especialmente os de produtos processados, porque a logística é mais fácil e dá matéria-prima para a indústria desses países trabalharem”, observa Santin.
Leandro Pinto, presidente da Mantiqueira Brasil, maior produtora e exportadora de ovos do país, afirma que os EUA mantiveram suas portas fechadas ao Brasil mesmo em 2014, ano da última grande crise da gripe aviária antes da atual. O empresário lembra que as exportações brasileiras de milho eram “pífias” até a grande seca americana, em 2012. “Quando há escassez, abrem-se fronteiras”, diz. Atualmente, a Mantiqueira vende ao exterior aproximadamente 4% da sua produção.
Países alternativos
O presidente da empresa afirma que, enquanto os grandes mercados não se abrem, é possível exportar para os países que pararam de comprar desses mercados devido a problemas sanitários. “Nós podemos atender os países que EUA e Ucrânia atendiam. Podemos ocupar espaço no Japão e no Oriente Médio”, pontua. Para Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza, empresa de assessoria para o comércio exterior, o valor do ovo no mercado externo pode elevar as cotações internas. “Embora o Brasil seja suficiente na produção de ovos e não deva ter escassez, os brasileiros enfrentarão o encarecimento do produto devido à diminuição da produção e, ao mesmo tempo, ao valor do mercado externo”, afirma, em nota.
Ricardo Santin não vê risco de os embarques prejudicarem a oferta no Brasil, já que representam uma parcela pequena da produção. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o preço do ovo branco está hoje 11% mais caro do que há um ano, a R$ 139 por caixa com 30 dúzias.