Doug McCaw, de Aledo, Illinois, é um típico produtor norte-americano, não apenas pelo seu tradicional macacão jeans ou por plantar mais milho do que soja, e sim por ser mais um a usufruir da política agrícola do seu país que concede de forma direta ou indireta, US$ 10 bilhões anuais em subsídios. Se não bastasse a garantia de renda assegurada pelo governo dos Estados Unidos, chova ou faça sol, McCaw tem a pouquíssimos quilômetros de suas lavouras as barcaças da ADM no rio Mississipi e para quem ainda achar pouco, ele tem sistema de armazenamento de grãos na propriedade.
Os produtores norte-americanos são assim, mesmo plantando porções menores em relação a Mato Grosso, por exemplo, conseguem envolver toda a família na literal lida da fazenda, armazenam no seu quintal o que colhem, recebem os subsídios, trocam de máquinas a cada safra e quem não tem o rio Mississipi vizinho como McCaw tem uma ferrovia e ou estradas vicinais pavimentadas ao lado das lavouras. Não é por nada que os norte-americanos têm a obrigação de ser os maiores produtores de milho e soja do mundo.
A realidade rural norte-americana foi desvendada nas últimas semanas por produtores mato-grossenses, que de conta em conta, após dez dias de visitas, chegaram à conclusão de que o frete que McCaw paga para transportar cada tonelada da soja que produz é simplesmente 85% mais barato se comparado ao mesmo equivalente em solo mato-grossense. Por meio da utilização da hidrovia construída dentro do rio Mississipi, a tonelada chega até o porto, no Golfo do México, de onde sai para Europa e Ásia, a US$ 18,37. Em Mato Grosso, num trecho de quase dois mil quilômetro de Sorriso (460 quilômetros ao norte de Cuiabá) até o porto, seja Paranaguá (PR) ou Santos (SP), não se paga menos de US$ 120, podendo exceder em momentos de pico de safra. “O que produtores como o senhor Doug McCaw pagam pelo transporte da soja até o porto é apenas 15% do valor que pagamos aqui”, contabiliza o sojicultor Alex Utida, de Campo Novo do Parecis.
A visita a McCaw foi certamente um dos momentos de maior reflexão da comitiva mato-grossense. A barcaça que sai Mississipi afora chega ao destino final, New Orleans, somando um comboio de 30 unidades, o que equivale a 65 mil toneladas, transportadas em cerca de 15 dias. O conselheiro do Fundo de Apoio à Cultura da Soja (Facs), e produtor em Diamantino (205 quilômetros ao norte de Cuiabá), Valdir Correa, lembra que o volume escoado por meio da hidrovia equivale a um milhão de sacas e tira cerca de 1,7 mil bitrens da estrada. “Imagina o ganho ambiental sem a emissão do gás carbônico?!”, indaga. Ele conta que a navegabilidade foi possível por meio da interferência humana que elevou o canal do Mississipi, “obra com aval do governo norte-americano que enxergou esta necessidade. O sistema de escoamento de grãos aqui é algo com que sonhamos para Mato Grosso, estado que sozinho está prestes a produzir cerca de 7% da soja mundial”.
Milho- Além do Farm Bill (nome da política agrícola norte-americana revisada a cada quatro anos) e da ampla logística para transporte, o que torna o produtor norte-americano eficaz dentro e fora da porteira –, mesmo que de maneira artificial quando comparado aos padrões brasileiros –, o segmento local conta ainda com o apoio do seu governo, que incentiva a produção de milho para o etanol. Plantar mais milho do que soja parece ser a tendência entre grandes produtores de Illinois e Iowa. O produtor Mike Peterson, vizinho de McCaw, confirma o avanço do cereal, justificando que além da transformação em etanol “o milho é mais fácil de plantar que a soja”. Como os filhos estão assumindo mais uma geração nas lavouras dos Estados Unidos, a manutenção da tendência deverá se intensificar. Peterson conta que na atual temporada (10/11) o milho ocupa 55%, contra 45% de soja. Para a nova safra, ele estima a manutenção da mesma proporção.