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Agroindústrias

Grupo Cremonini acusa JBS de "agiotagem"

Escalada na disputa coloca sócios na italiana Inalca JBS em rota de colisão e sociedade pode estar ameaçada.

A brasileira JBS e o grupo italiano Cremonini entraram definitivamente numa rota de colisão que ameaça pôr fim à sociedade iniciada há três anos.

“Queremos acabar com essa novela”, disse ontem o presidente da JBS, Joesley Batista, sobre o litígio que a empresa trava com seu sócio na Inalca JBS. É a primeira vez que o executivo fala da disputa, que veio a público no começo de julho.

Longe de terminar, no entanto, a querela ganhou contornos de caso de polícia depois que o sócio italiano comunicou, no sábado, ter feito uma queixa à Procuradoria Geral da República de Modena, acusando a JBS de obstrução à liberdade do comércio e indústria, agiotagem e difamação. A JBS ainda não foi intimada, segundo o diretor-jurídico Francisco de Assis da Silva.

A disputa levou a brasileira à Câmara de Comércio Internacional de Paris pedindo a arbitragem de questões de governança

Na reunião com jornalistas para comentar os resultados da JBS no trimestre, Batista gastou a maior parte do tempo com o assunto, que ganhou as páginas dos jornais italianos no fim de semana.

Segundo ele, o embate não tem relação com a aquisição da Bertin em setembro de 2009. O negócio, sustenta o Cremonini, teria gerado um conflito de interesses, pois a Bertin já era sócia da também italiana Rigamonti, concorrente da Inalca em bresaola, uma especialidade muito apreciada na Itália. “A bresaola representa 2% das vendas da Inalca”, argumentou Batista.

Em comunicado ontem, o grupo italiano manteve a acusação de concorrência desleal. A JBS teria adquirido, por meio da Bertin e depois diretamente, concorrentes da Inalca na Itália, Rússia e África sem submeter à Inalca, como exigido pelo contrato, a aquisição dessas unidade.

Batista afirmou que não há conflito de interesses entre JBS e Inalca JBS na Rússia, como alega seu sócio. Ele disse que a JBS vinha negociando a compra de um distribuidor, que “herdou” da Bertin na Rússia, e consultou a Cremonini sobre a associação, já que, pelo acordo, a italiana tem o direito de preferência e pode adquirir 50% do que a JBS comprar na Europa, África e Rússia.

Queixando-se da falta de transparência dos sócios na Inalca JBS, o presidente da JBS admitiu, nas entrelinhas, que as atitudes do Cremonini podem estar relacionadas à cláusula de ajuste de preço acertada quando a brasileira comprou os 50% da Inalca, por € 225 milhões, em dezembro de 2007.

Pelo contrato, haverá um ajuste de € 65 milhões em favor da Cremonini se o lucro operacional (lajida) da Inalca JBS exceder € 90 milhões em 2010. Nesse cenário, a Cremonini também poderia exercer a opção de vender seus 50% para a JBS. “Eles estão tentando a qualquer preço atingir esse valor”, disse Batista. O valor estimado da Inalca JBS é 10 vezes o lajida menos o valor da dívida. Considerando o ajuste de preço de € 65 milhões, a Cremonini receberia cerca de € 365 milhões numa eventual venda dos 50% restantes à JBS.

“O que queremos saber é como o resultado está sendo produzido, queremos transparência”, acrescentou Francisco de Assis da Silva.

A Cremonini nega a acusação. No comunicado, diz que os balanços de 2008 e 2009 foram auditados pela Reconta Ernst & Young, com parecer sem ressalvas.

Segundo Batista, os problemas com o Cremonini começaram já no início da sociedade. Entre as atitudes questionadas pela JBS estão o desconto de duplicatas, pela Inalca JBS, em empresas de factoring para não configurar dívida e atraso no pagamento de fornecedores para baixar o valor da dívida líquida – esta última, na época em que a sociedade foi firmada e com o objetivo de aumentar o prêmio pago ao Cremonini.

Além disso, segundo ele, o Cremonini resiste em aceitar os executivos financeiros indicados pela JBS, como foi acertado.

A JBS excluiu os números da Inalca JBS do balanço do segundo trimestre e pediu auditoria dos dados. Também comunicou aos bancos credores da Inalca JBS que, a partir de agora, não irá mais garantir os empréstimos contraídos pela companhia italiana. “Como não entendemos os números, não renovaremos os empréstimos”, disse. A decisão levou o sócio a acusá-la de agiotagem.

Questionado se a JBS poderia de se desfazer de sua fatia na Inalca JBS, Batista disse que já ofereceu ao sócio seus 50%. “Nosso interesse é resolver o problema.”