As farmacêuticas estão correndo para criar vacinas que detenham o vírus suíno mortal que vem assolando o setor americano de carnes e impulsionado o preço da carne de porco para recordes de alta.
Duas empresas — a minúscula Harrisvaccines Inc. e a empresa de saúde animal Zoetis Inc. ZTS +2.06% — receberam aprovação regulatória condicional nos últimos meses para comercializar vacinas para o vírus da diarreia epidêmica suína (ou PED, na sigla em inglês) nos Estados Unidos, que já se espalhou por 31 Estados e matou milhões de porcos jovens desde que foi identificado pela primeira vez no país, em abril de 2013. Pelo menos duas outras farmacêuticas — a americana Merck Sharp & Dohme e a alemã Boehringer Ingelheim GmbH — afirmam que estão pesquisando possíveis vacinas para o vírus suíno.
Criadores de porcos e frigoríficos esperam que as vacinas possam reduzir uma doença que vem confundindo cientistas e reguladores, ainda em dúvida sobre suas causas e mecanismos de contágio. O vírus é fatal apenas para os animais jovens e não ameaça a saúde humana ou a segurança alimentar, segundo cientistas. O vírus reduziu a oferta de suínos nos EUA, elevando os custos para processadores de carne, varejistas e consumidores. O preço médio da carne suína no varejo americano subiu 12% no período de 12 meses terminado em agosto, para um recorde de US$ 9,26 o quilo, segundo dados federais.
A rápida aprovação das novas vacinas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) reflete a urgência com que o governo e o setor de vacinas para animais estão buscando soluções. As empresas de saúde animal geram estimados US$ 6 bilhões por ano com vendas de vacinas em todo o mundo, segundo a firma escocesa de pesquisas Vetnosis Ltd.
Grandes produtores de suínos, como Cargill Inc. e Maschoffs LLC, estão experimentando as vacinas, embora muitos no setor afirmem que não esperam que elas se tornem uma cura universal porque outras vacinas para vírus suínos semelhantes tiveram sucesso limitado.
Os produtores de suínos e veterinários “estão extremamente frustrados e procurando por todas as opções viáveis para controlar o vírus”, diz Aaron Lower, veterinário da Carthage Veterinary Service, uma empresa do Estado americano de Illinois que dá consultoria a criadores. Segundo estimativas do setor, cerca de oito milhões de porcos morreram devido ao vírus desde que este foi descoberto nos EUA, sendo que alguns produtores sofreram mais de um surto. A produção de carne suína no país caiu 1,8% este ano, segundo o USDA, elevando os preços futuros de porcos já abatidos para o recorde de US$ 1,33875 a libra (0,45 quilo) em julho. Os preços recuaram nos últimos dois meses, em parte porque menos surtos do vírus foram registrados em comparação com o início do ano. É provável que as temperaturas mais elevadas dificultem a sobrevivência do vírus, dizem veterinários.
“Se essas intervenções são efetivas ou não é uma pergunta que não será respondida até o inverno chegar”, diz Lower, o veterinário da Carthage, que já aplicou a vacina nos rebanhos de alguns clientes.
Mike Martin, porta-voz da Cargill, o quarto maior processador de carne suína dos EUA, diz que a companhia está otimista que as duas vacinas aprovadas ajudarão os jovens animais a sobreviver. Ele observou que o uso do produto da Harrisvacine pela Cargill “já ajudou nesse sentido”.
Em junho, a Harrisvacines se tornou a primeira empresa a receber aprovação condicional do USDA para vender a vacina contra o vírus suíno. A designação significa que a empresa pode distribuir o tratamento diretamente para os produtores de porcos ou veterinários, enquanto busca uma licença integral.
O sistema de licenciamento condicional do USDA, que está disponível para empresas de saúde animal desde 1985, exige que as empresas demonstrem em testes de campo que seus tratamentos são seguros. Elas também devem fornecer dados de testes indicando que o produto seria provavelmente eficaz no combate à doença.
Antes de receber a aprovação do USDA, a Harrisvaccines vendia sua vacina como um tratamento experimental. Os produtores de suínos tinham que obter uma receita de um veterinário licenciado. A empresa afirma que vendeu 2,6 milhões de doses desde que lançou a vacina, em agosto de 2013. A vacina, que custa US$ 3 a dose, é administrada em porcas adultas na esperança de que a imunidade seja transmitida para suas crias. A empresa recomenda que as porcas recebam duas doses.
A tecnologia da Harrisvaccines, que é sediada em Iowa, utiliza sequenciamento genético para identificar um gene no vírus suíno que os pesquisadores acreditam que pode criar imunidade. Os pesquisadores inseriram esse material genético em um vírus enfraquecido quimicamente, criando o que é chamado de vacina vetorial.
O rápido desenvolvimento de sua vacina foi uma vantagem para essa pequena empresa de capital fechado, que foi criada em 2006 e emprega cerca de 40 pessoas. O faturamento deve dobrar para cerca de US$ 8 milhões neste ano ante 2013, diz Joel Harris, diretor de vendas e marketing e filho do diretor-presidente e fundador, Hank Harris.
Em uma tarde recente, o Harris mais velho estava em um laboratório de pesquisas do Estado de Iowa, onde ele e outros pesquisadores vêm testando produtos para combater doenças altamente infecciosas de rebanhos. Ele disse que a tecnologia que a Harrisvaccines usa para o vírus suíno pode ser promissora em outras áreas. “Daqui a 10 ou 20 anos, alguém terá câncer e as células em seu copro serão analisadas em busca de um gene que seja importante para esse processo, e os pesquisadores irão colocá-lo em uma plataforma como essa e você será vacinado imediatamente”, diz.
A Zoetis, que foi desmembrada da Pfizer PFE +0.55% em 2013 e faturou US$ 4,6 bilhões no ano passado, recebeu a aprovação condicional para sua própria vacina contra o vírus suíno no início de setembro.