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Mercado Externo

Óleo para China

Argentina tenta retomar exportações de óleo de soja para o gigante asiático. Chineses alegam descumprimento de especificações técnicas.

A Argentina busca uma solução imediata para contornar o bloqueio estabelecido pela China ao óleo de soja proveniente do país. Temendo prejuízos que podem beirar US$ 2 bilhões, o governo argentino se mobilizou ontem para pressionar os chineses, que alegam descumprimento de especificações técnicas.

O chanceler Jorge Taiana chamou o embaixador da China em Buenos Aires para apresentar formalmente uma reclamação, ontem à noite, e a própria presidente Cristina Kirchner reuniu-se com seus ministros para analisar o assunto. O bloqueio chega no momento em que a Argentina colhe uma supersafra de soja, estimada em 53,5 milhões de toneladas, volume recorde para o grão. Cerca de 45% das exportações de óleo de soja têm a China como destino. Daí porque, para a consultoria Abeceb.com, a medida poderia afetar vendas de quase US$ 2 bilhões neste ano.
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O governo chinês bloqueou a entrada de óleo de soja da Argentina com “resíduos de solventes em nível superior a 100 partes por milhão”. Essa exigência vigora desde 2003, mas pelo menos um terço dos embarques estariam acima do limite determinado. Uma missão argentina do Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar (Senasa) já foi a Pequim para discutir a questão. De todo o óleo de soja comprado pela China, 76% do total tem origem na Argentina.

Analistas viram uma tentativa dos chineses de derrubar o preço do óleo ou forçar a venda de soja em grão, já que aumentou a capacidade de processamento local. Mas setores do governo argentino, como o Ministério da Produção, têm uma interpretação diferente: a medida seria uma resposta da China à escalada de medidas antidumping aplicadas recentemente para proteger a indústria argentina.

Nas últimas semanas, o governo definiu um preço mínimo para a importação de calçados chineses e também estabeleceu direito antidumping aos fabricantes de isqueiros. O déficit da Argentina com a China foi de US$ 600 milhões apenas no primeiro bimestre – praticamente metade do valor verificado em todo o ano passado. A ministra Débora Giorgi defendeu as medidas e tentou diferenciá-las do bloqueio chinês. “Nossas medidas buscam evitar a concorrência desleal, que cresceu como consequência da crise internacional e da sobreoferta de produtos no ano passado, mas nós não proibimos as importações chinesas, que continuam ingressando no nosso país”, comparou Giorgi.

O imbróglio entre China e Argentina não teve reflexos significativos na direção dos preços internacionais do óleo de soja ontem. Segundo Renato Sayeg, da Tetras Corretora, de São Paulo, o mercado aguardava os resultados da reunião de ontem entre as partes para melhor se posicionar.

Havia antes da reunião um descrédito geral de que a posição chinesa fosse de fato ser mantida por muito tempo, e com isso o problema não influenciou diretamente as cotações do produto ontem na bolsa de Chicago, sua referência global mais importante, nem nas negociações com óleo de soja brasileiro, uma alternativa natural para a China em caso de problemas com a Argentina.

Em Chicago, os contratos futuros do óleo de soja com vencimento em julho – que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez – encerraram a sessão a 39,82 centavos de dólar por libra-peso, alta de 37 pontos em relação à quinta-feira. Neste ano, conforme o Valor Data, a segunda posição apresenta queda de 2,35%; em 12 meses, há uma alta acumulada de 11,92%.

De acordo com Sayeg, os prêmios pelo óleo de soja do Brasil permaneceram negativos em cerca de 200 pontos, o que sinaliza que não houve manifestações extemporâneas de interesse chinês. Segundo ele, também não havia sinais de mudança do apetite das grandes tradings globais.