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Internacional

Peste Suína Africana (PSA) na Alemanha: o impacto nas fazendas e a incerteza para o setor suíno do país

Peste Suína Africana (PSA) na Alemanha: o impacto nas fazendas e a incerteza para o setor suíno do país

A Peste Suína Africana (PSA) tem se mostrado uma das maiores ameaças ao setor suinícola global, e a recente infecção em uma fazenda no estado de Hesse, Alemanha, lança luz sobre os desafios enfrentados pelos produtores. O caso de Thomas Paul, proprietário de uma fazenda mista com agricultura arável e criação de suínos, ilustra o impacto devastador da doença na economia rural e na segurança alimentar.

A fazenda de Paul, que antes produzia cerca de 6.000 leitões desmamados por ano, teve sua operação drasticamente interrompida após a confirmação de PSA em alguns dos seus animais. A infecção, detectada em javalis da região em meados de 2024, fez com que o criador enfrentasse uma proibição de transporte de seus animais e, posteriormente, o sacrifício de todos os 2.600 porcos de sua propriedade. Esse cenário refletiu a gravidade da situação na Alemanha, onde o surto da doença vem afetando não apenas as grandes explorações industriais, mas também pequenos e médios produtores locais.

A PSA, que não representa risco para a saúde humana, mas é fatal para os suínos, continua sendo uma preocupação global, especialmente devido à sua rápida disseminação e à dificuldade de controle. Embora a doença já tenha causado sérios danos em regiões da Ásia e do Leste Europeu, sua chegada à Alemanha — um dos principais produtores de carne suína da Europa — acentua os riscos que ela impõe à suinocultura mundial.

Desafios e Incertezas para os Produtores

O caso de Thomas Paul é emblemático das dificuldades enfrentadas pelos produtores de suínos nas zonas afetadas. A decisão de sacrificar os animais, mesmo com a confirmação de que apenas quatro porcas estavam infectadas, seguiu o protocolo preventivo recomendado pelas autoridades sanitárias alemãs. Essa medida visa evitar a propagação da doença para outras fazendas, mas traz consequências econômicas severas para os produtores.

Paul perdeu não apenas seu rebanho, mas também a possibilidade de retomar suas atividades no curto prazo. Mesmo com a limpeza e desinfecção dos chiqueiros, conforme as exigências governamentais, não há previsão para o reinício da criação. A incerteza quanto à responsabilização pelos custos adicionais — como as despesas com a desinfecção das instalações — agrava ainda mais a situação. O produtor não esconde sua frustração, afirmando que “não sou o culpado, e é o governo que quer que os chiqueiros sejam limpos e desinfetados. Faz sentido que eles paguem.”

A PSA não é uma doença nova, mas os surtos recentes mostram que, apesar das cercas sanitárias e das medidas de prevenção, a transmissão pode ocorrer de maneiras inesperadas. No caso de Paul, a suspeita recai sobre aves de rapina, que podem ter transportado fragmentos de carcaças de javalis infectados para dentro da fazenda, ultrapassando as barreiras físicas que foram implementadas.

Impacto Global e Perspectivas

A crise da PSA na Alemanha é parte de um quadro mais amplo. Desde que foi detectada pela primeira vez em regiões da África, a doença se espalhou rapidamente pelo mundo, atingindo fortemente o Sudeste Asiático e, mais recentemente, partes da Europa. A Alemanha, com sua forte presença no mercado de exportação de carne suína, tem implementado medidas rigorosas para evitar que o surto se espalhe para outras regiões do país e da Europa. A presença de PSA na Europa já levou vários países a suspenderem temporariamente a importação de carne suína alemã, afetando ainda mais a economia local.

Além dos prejuízos diretos, o impacto indireto sobre o mercado também é considerável. Com a redução no número de suínos para abate, o preço da carne tende a subir, gerando um efeito cascata nos custos de produção e na cadeia de fornecimento de alimentos. Paul, por exemplo, vendia metade de seus leitões para outros produtores da região que trabalhavam com alimentação local e subprodutos de fábricas de laticínios e cervejarias. Agora, toda essa cadeia está paralisada.

No entanto, mesmo com as dificuldades, Paul ainda expressa o desejo de continuar na suinocultura. Ele acredita que a combinação de agricultura arável e criação de suínos é fundamental para a região. Contudo, enquanto o surto de PSA continuar sem uma solução clara, a retomada da produção permanece incerta.

O Futuro da Suinocultura Diante da PSA

O caso de Thomas Paul reflete a realidade de muitos outros produtores na Europa e no mundo. A PSA é uma ameaça persistente, e o controle da doença dependerá não apenas de medidas rigorosas de biossegurança, mas também de políticas públicas eficazes que apoiem os produtores em momentos de crise. A forma como os governos lidam com a compensação financeira e com a reestruturação do setor será crucial para a recuperação da suinocultura, especialmente em regiões altamente dependentes dessa atividade econômica.

Enquanto isso, a prevenção continua sendo o melhor remédio. O fortalecimento das barreiras sanitárias e o monitoramento constante das populações de javalis são essenciais para evitar novos surtos. Mas, como mostrado na Alemanha, até mesmo as melhores defesas podem ser superadas por formas imprevisíveis de transmissão. Para Thomas Paul e outros criadores na mesma situação, o futuro permanece incerto — e o setor suinícola global espera por soluções que possam conter a propagação da PSA de forma eficaz e sustentável.

Referências: Pig Progress