Sinais de contaminação de produtos japoneses por radiação podem afetar a produção e as exportações do país, ampliando assim o impacto econômico causado pelo terremoto e pelo tsunami. Já há vários casos envolvendo produtos alimentícios. Além disso, o setor automobilístico veio a público na sexta para negar que veículos produzidos no Japão estivessem contaminados por radiação.
O governo japonês deve decidir hoje proíbe a venda de alimentos produzidos nas proximidades da acidentada usina nuclear de Fukushima, no nordeste do país. Ontem o governo informou que radiação acima dos limites aceitos foi encontrada em leite e espinafre vindos da região, na primeira admissão oficial de contaminação.
O governo não informou como ocorreu a contaminação dos produtos, o que, segundo especialistas, dificulta a avaliação dos riscos para a cadeia produtiva.
Mas, antes mesmo de o governo agir, consumidores já evitavam ontem nos supermercados alimentos produzidos na zona atingida pelo vazamento de radiação.
É possível que essa cautela do consumidor diante do risco ou da suspeita de contaminação por radiação se repita fora do Japão, afetando assim a demanda externa por produtos japoneses.
Ontem, o governo de Taiwan informou ter encontrado radiação acima do normal em vegetais importados do Japão, mas que o nível de radiação ainda se encontrava dentro dos limites aceitos. Vários países já determinaram uma verificação mais rigorosa de radiação em produtos vindos do Japão.
O governo determinou que produtos agrícolas, pescados e também a água potável passem a ser submetidos a testes. Ontem foi divulgado que a água na região da usina nuclear está com nível de radiação acima do normal, mas ainda dentro dos padrões aceitos.
O Japão não é um importante exportador de alimentos, mas vende alguns itens de alto valor agregado. Produtores temem que cortes caros de carne bovina, como o wagyu, e o arroz, alimento base no país, podem ser retirados das prateleiras e barrados para a exportação caso sejam detectados níveis excessivos de radiação. Isso teria um impacto sobre a produção e o comércio exterior do país.
“Estou preocupado com a reação excessiva dos consumidores”, disse na sexta-feira Tetsurou Shimizu, pesquisador-chefe do Instituto de Pesquisas Norinchukin, em Tóquio. “Os agricultores da região correm o risco de verem seus produtos rejeitados pelos consumidores, mesmo que não haja evidências científicas para isso.”
A região de Fukushima produz arroz, vegetais, frutas, carne bovina e suína, frango e ovos. A inspeção para detectar radiação imposta pelo governo vale não só para a região, mas para todo o país.
Entre março de 2009 e março de 2010, o Japão exportou 677 toneladas métricas de carne bovina. Vietnã e Hong Kong foram os dois maiores compradores. As exportações de arroz chegaram a 1.898 toneladas – sendo Hong Kong e Cingapura os principais mercados.
Na quinta-feira, a União Europeia recomendou que os japoneses adotem controle mais rigorosos aos produtos agrícolas. Vários países asiáticos, como Coreia do Sul, Indonésia, Tailândia, Malásia, Cingapura e Filipinas, estão submetendo alimentos importados do Japão a testes de radiação.
A indústria automobilística japonesa, setor-chave da economia do país, também rastreia radioatividade em seus carros. A Nissan informou na sexta-feira que todos os seus modelos estão sendo submetidos a testes de radiação ao saírem da linha de montagem.
Os testes, segundo a montadora, visam garantir que os veículos mantenham “padrões de segurança internacionalmente aceitos”. O monitoramento será feito até que a crise nuclear seja resolvida.
Na sexta-feira, a Associação de Fabricantes de Automóveis do Japão tentou afastar o fantasma que pode vir minar a competitividade dos carros japoneses pelo mundo. Em nota, disse que não há nas fábricas japonesas níveis de radioatividade perigosos à saúde.