Cento e trinta e oito gramas. Essa é, em média, a quantidade de antibiótico que uma pessoa na China consome por ano, e que é 10 vezes superior ao consumido por um americano comum. No país que mais usa antibióticos no mundo, até uma simples gripe rende receita do fármaco. E os medicados, no caso, não são apenas os humanos.
A sede chinesa por antibióticos – estimulada em grande parte pelos “incentivos financeiros significativos” dados aos médicos, conforme um estudo publicado no Journal of Health Economics – afeta também os animais.
Levantamento recente feito por uma consultoria de agronegócio em Pequim aponta que a pecuária é o setor de maior aplicação de antibióticos na China, cobrindo mais de 50% do consumo total do país. Hoje, um suíno criado por lá consome em média quatro vezes mais antibióticos que um espécime criado numa fazenda dos Estados Unidos.
Três fatores contribuem para o abuso, segundo os pesquisadores: o método de criação dos animais, em espaços confinados, a fraca regulamentação e o surgimento de doenças epidêmicas complicadas.
O uso desenfreado de antibióticos tem consequências graves. De acordo com a OMS, além de poder desencadear novas doenças, o uso excessivo do fármaco ameaça a sua própria eficácia, uma vez que leva ao surgimento de superbactérias resistentes.
Uma equipe de pesquisa liderada por cientistas da China e da Michigan State University descobriu recentemente “diversos e abundantes genes resistentes a antibióticos em granjas de suínos da China”.
O estudo, publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências, classifica a resistência de bactérias às drogas como uma questão de segurança alimentar e um perigo potencial para o desenvolvimento sustentável e saudável da pecuária chinesa. Além disso, quando as pessoas comem carne e derivados tratados com a droga, elas também acabam ingerindo parte da substância.
A aplicação de antibióticos na pecuária pode ser dividida em duas partes. Uma parte é aplicada no processo de produção da pré-mistura de alimentos por fábricas de rações, onde eles são utilizados principalmente para a prevenção de doenças e promoção do crescimento do animal.
Outra parte é usada no processo de criação dos bichos em fazendas para a prevenção e tratamento da doença, nas formas de alimentação a base de mistura, na bebida, por injeção ou ainda através do banho e da pulverização do ambiente.