Na competição com os produtores europeus, os agropecuaristas brasileiros têm duas desvantagens de peso: os subsídios agrícolas e às barreiras sanitárias e tarifárias. Mesmo com custos menores, não conseguem espaço para boa parte de seus produtos na União Europeia (UE). Porém, do ponto de vista dos representantes da UE, os entraves só devem ser reduzidos à medida em que também houver mais espaço para os produtos europeus, industrializados ou não, no mercado brasileiro. O agronegócio tende a ser a moeda de troca entre UE e Mercosul nas negociações que tinham sido paralisadas em 2004 e foram retomadas no último ano. Nova rodada de discussões está programada para julho.
O quadro não significa que haverá prejuízo para algum dos lados, defende o conselheiro da UE Lionel Masnildrey. Em sua avaliação, tanto o bloco europeu quanto o Mercosul possuem vantagens em muitos aspectos. O desafio é negociar melhores condições de acesso aos produtos mais competitivos, pontua.
Os conselheiros da UE reconhecem a competitividade de produtos brasileiros como a soja e o frango e afirmam que os embarques podem inclusive ser ampliados, sempre dependendo das negociações. Num cenário de aumento do consumo global, países como o Brasil são desafiados a mostrar dinamismo e aumentar a produção com qualidade, observa Tomas Garcia Azcarate.
As discussões devem avançar a partir do momento em que propostas concretas forem colocadas à mesa. Por enquanto, tendem a se prolongar devido à própria complexidade dos temas, conforme Patrícia Medeiros, especialista em Comércio Exterior da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). O setor do leite é citado pelos especialistas como exemplo do jogo de interesses que envolve cada negociação. A UE tende a eliminar as cotas que limitam a produção por fazenda em 2014/15. Essa medida deve fazer com que as regiões mais competitivas se mantenham no negócio, baixando o preço para o consumidor europeu. Por outro lado, caso falte alimento, o bloco poderá buscar suprimento em mercados externos. No Mercosul, no entanto, Brasil, Argentina e Uruguai ainda não conseguiram estabelecer um plano de exportação em comum. Essa discussão, retomada no ano passado, esbarra nas diferenças entre os sistemas produtivos e entre as leis nacionais. Enquanto isso, a pecuária brasileira enfrenta “invasão” de leite em pó argentino, mais barato que o brasileiro devido à valorização do real.