A Europa continua perdendo a luta contra a doença da “vaca louca”, a encefalopatia espongiforme bovina (BSE, na sigla em inglês), ao mesmo tempo em que seus produtores de carnes exigem padrões mais rígidos para a entrada de produto brasileiro no mercado comunitário. O Valor apurou que a União Europeia (UE) registrou 81 novos casos de doença da “vaca louca” desde janeiro do ano passado. Foram 71 em 2009 e mais 15 entre janeiro e março deste ano, em meio a uma enorme discrição por parte de Bruxelas.
Atualmente, a tentativa de se retomar a negociação UE-Mercosul para um acordo de livre comércio vem sendo torpedeada por produtores de carnes bovina e de frango, principalmente da França e da Irlanda, sob a alegação oficial de que o produto brasileiro não é submetido aos mesmos padrões sanitários que os europeus.
As estatísticas da própria UE, em todo caso, mostram que esses países estão entre os mais atingidos por doenças em seus rebanhos. Dos 71 casos de BSE de 2009, 20 foram registrados na Espanha, 12 no Reino Unido, 11 na França, 9 na Irlanda e 8 em Portugal. Este ano, de 15 novos casos, cinco foram no Reino Unido, o país de origem da enfermidade, quatro na Espanha e três na França.
A doença da “vaca louca” é uma infecção degenerativa do sistema central dos bovinos que começou no Reino Unido, em decorrência do uso de farinhas feitas a partir de restos animais na alimentação dos bovinos, e provocou no homem uma variante da doença, a síndrome de Creutzfeldt-Jakob, que causou dezenas de mortes na Europa.
A lista de doenças que atinge os rebanhos na Europa é longa. Só em 2009, foram registrados 1.116 casos de “língua azul”, uma doença infecciosa, não contagiosa, de notificação obrigatória segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), pois sua ocorrência impõe restrições à movimentação internacional dos animais e seus produtos.
Na França, surgiram tambem casos de anemia equina e vírus da gripe aviária de baixa patologia em frangos. A Itália registrou nada menos que 11 infecções.
A Comissão Europeia não esconde os dados, mas tampouco se ocupa de divulgá-los da mesma forma com que publicamente mantém suas baterias voltadas para a carne importada que afeta seus produtores menos competitivos.