De todos os fatores que complicam o estabelecimento da vida produtiva do leitão, destacamos o desmame, pois engloba diversas pressões fisiológicas, imunológicas e nutricionais ao animal. O primeiro indicador dessas pressões multifatoriais e, talvez o mais importante seja a diarreia pós-desmame, diretamente relacionada à agressão da arquitetura intestinal por patógenos, mudança abrupta de dieta e queda de imunidade.
A estrutura do intestino é composta basicamente por projeções em forma de dedos chamadas vilosidades, no meio das quais são encontradas glândulas tubulares denominadas criptas. Quanto maior a altura das vilosidades, maior a capacidade absortiva do intestino suíno e quanto menor a profundidade das criptas intestinais, mais íntegro, provavelmente, estará o epitélio do órgão.
A primeira semana pós desmame é caracterizada por acentuada agressão do epitélio intestinal, revelada por decréscimo na altura das vilosidades e aumento da profundidade das criptas. A separação da mãe e consequente queda de imunidade colaboram para agravar o quadro danoso ao tecido intestinal, fato que desencadeia o quadro de diarreia.
Além do evidente dano à estrutura intestinal, o perfil cronológico de atuação das enzimas digestivas é extremamente importante, principalmente nos dias que precedem e sucedem o desmame. Várias enzimas estão envolvidas na fisiologia digestiva de suínos e sua idade de atuação tem reflexo direto no tipo de alimento que esses animais conseguirão digerir. Os principais grupos a serem citados são lactase, amilase, lipase e protease e cada uma delas segue um padrão peculiar de atuação.
No momento do desmame, realizado aproximadamente aos 21-23 dias de vida, já se observa um declínio da produção e atividade da lactase, com concomitante aumento da atividade de enzimas que quebram proteínas (proteases) e carboidratos (amilases). Nesse ponto, alguns ingredientes proteicos e amiláceos facilmente assimiláveis devem ser suplementados ao animal.
Do período de creche em diante, o que se observa claramente é que os suínos melhoram progressivamente a capacidade de digestão de amido, proteínas e gorduras, em detrimento da digestão de lactose. O grande desafio das semanas ao redor do desmame é conseguir nutrir bem e adequadamente os leitões, respeitando sua capacidade absortiva em cada momento, para alcançar o melhor desempenho.
Diversos ingredientes como plasma sanguíneo, leveduras, produtos lácteos, ácidos orgânicos, probióticos e prebióticos podem e devem ser incluídos nas dietas para leitões no período de desmame, visando aumentar a digestibilidade da dieta, reduzir a diarreia pós-desmame, respeitar o perfil cronológico de atuação das enzimas digestivas e atender às necessidades nutricionais desses animais, objetivando o melhor desempenho ao final do ciclo de criação.
O consumo adequado de ração, principalmente para leitões recém-desmamados é de suma importância para um desempenho satisfatório ao final do ciclo de produção. Nessa nova etapa de criação dos suínos (creche), na qual eles enfrentam a separação da mãe, troca de dieta líquida para sólida, dentre outras, estabelecer um bom padrão de consumo é necessário. Com isso, a palatabilidade da dieta é outro ponto fundamental.
Os suínos possuem aproximadamente 19 mil papilas gustativas, o que contribui para uma boa percepção de sabor. A utilização de edulcorantes e aromatizantes como sacarina, neosperidina, taumatina, aroma lácteo, aroma de baunilha, dentre outros, podem auxiliar na melhora de consumo da dieta, favorecendo o desempenho dos animais.
Diversos fatores podem contribuir para um bom desempenho de suínos recém-desmamados, sendo a nutrição um deles, portanto, alternativas nutricionais que visam auxiliar a digestibilidade da dieta e estimular o consumo de ração por parte desses animais são extremamente válidas na suinocultura e devem ser adotadas.