O governo holandês quer diminuir o uso de antibióticos na avicultura em pelo menos 20%. Esta semana, também teve início um experimento com dezenas de avicultores para tentar banir os antibióticos por completo.
A discussão política sobre a abordagem dada à chamada frebre-Q, que atingiu o rebanho de cabras na Holanda, mal terminou e já surge um novo problema. O uso constante de antibióticos na criação industrial de frangos faz com que bactérias resistentes sejam transmitidas para o ser humano, cujo organismo, por sua vez, pode se tornar resistente aos antibióticos.
Também parece haver uma ligação com duas bactérias resistentes que são encontradas com cada vez mais frequência em hospitais. Trata-se da temida ‘bactéria de hospital’ MRSA e da menos conhecida ESBL. Ambas são também cada vez mais frequentes na avicultura.
Experimento
No início do mês de março ficou decidido que antibióticos como as cefalosporinas poderão ser utilizados em animais apenas em casos excepcionais. Mas a ministra holandesa da Pecuária e Agricultura, Gerda Verburg, criou outras regras:
”Aqui há empresas que dizem que irão tentar trabalhar sem nenhum antibiótico. Isso significa, portanto, que irão experimentar com outra ração, outra temperatura nos galpões e outras medidas do tipo. Assim veremos se estes pioneiros poderão dar o exemplo para todo o setor. E o resto já sabe: 20% de antibióticos a menos em 2011.”
Muito pouco
Mesmo assim é um passo ambicioso, acredita Ludo Hellebrekers, presidente da organização de veterinários KNMvD.
”Nós podemos aconselhar os criadores a tomar outras medidas para melhorar a saúde dos animais, de forma que precisem de menos antibióticos. Mas os avicultores se veem diante da questão de como realizar isso de maneira economicamente viável. Este é o dilema.”
Este é, portanto, o núcleo do problema. Para produzir de maneira barata, são criadas muitas aves em um espaço muito pequeno, o que permite que doenças se disseminem rapidamente. Frequentemente, os avicultores utilizam antibióticos com caráter preventivo. No passado, eles eram inclusive usados para estimular o crescimento das aves.
Sem regras mundiais
Mudar para galpões com muito mais espaço ou para a criação orgânica faz com que o frango fique muito mais caro. E aí há também a concorrência estrangeira. Embora o tema também esteja na agenda da Organização Mundial da Saúde, ainda não há regras mundiais para o uso de antibióticos na avicultura. Mas isso não é motivo para não tomar uma atitude, acredita Ludo Hellebrekers:
”Acho que há uma diferença de ‘tempo’ entre os diferentes países, mas isso não nos impede, na Europa e na Holanda, de assumir nossa responsabilidade.”
A Europa tem algumas regras, assim como outros países, mas elas não são as mesmas. Além disso, o controle destas regras nem sempre é bom. Avicultores holandeses reclamam, por exemplo, das importações da América do Sul.
Último recurso
O dinheiro, desempenha portanto, um papel real. Mas a ansiedade na Holanda é grande. O antibiótico Ceftiotur era usado em larga escala para aumentar a resistência dos pintinhos. Mas eles ficaram cada vez mais resistentes ao medicamento e hoje ele é praticamente proibido na avicultura.
Existe a suspeita de que seres humanos que comem carne de frangos resistentes a antibióticos também se tornem resistentes. Se isso realmente acontecer, haverá um problema ainda maior. O Ceftiotur é usado em humanos apenas como último recurso no caso de infecções bacterianas graves, quando nenhum outro antibiótico funciona.