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Ano estável

A produção de pintos de corte no Brasil deve atingir 3,8 bilhões de cabeças, representando um crescimento de 9,43% sobre o total de 2001.

Redação AI (Edição 1107/2002) – Mesmo enfrentando os reflexos de todas as dificuldades experimentadas pela avicultura brasileira no último ano, em especial às decorrentes da escassa produção e oferta de milho e da forte desvalorização cambial da moeda brasileira, o setor de pintos de corte deve fechar o ano sem comprometer os seus níveis de produção. As projeções da Associação dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco) indicam que o setor deve fechar o ano de 2002 com um volume ligeiramente acima dos previstos no final de 2001, que indicavam um crescimento de 8% na produção brasileira de pintos de corte. “Os números consolidados até setembro sugerem que esse crescimento ficará um pouco acima dos 9%”, revela José Flávio Mohallen, presidente da Apinco. De acordo com ele, o setor deverá encerrar o ano com uma produção de 3,8 bilhões de cabeças, o que representa um volume superior 9,43% sobre o total de pintinhos de corte produzidos em 2001, que atingiu o resultado de 3,4 bilhões de cabeças.

Produção de pintinhos de corte: 9,43% maior em 2002

Segundo o presidente da Apinco, a ausência de milho no mercado interno e a forte variação cambial brasileira foram os principais entraves enfrentados pelo setor ao longo de 2002. Entretanto, Mohallen destaca como agravante a elevação dos preços públicos administrados, leia-se combustíveis, energia elétrica e comunicações. “Embora não dolarizados e não dependentes de importações, o aumento dos preços públicos continuam, na prática, tendo variação similar ou até maior que a da moeda americana. Isso, obviamente, encarece ainda mais o produto final, já que a atividade é grande usuária dos três insumos”, avalia. De acordo com ele, os problemas com o abastecimento de milho devem permanecer em 2003, uma vez que não há indicações de que a próxima safra seja maior do que a presente. “Isso se traduz num abastecimento ajustado e a preços elevados, o que por sinal, é uma tendência do mercado mundial”, diz.

Mohallen tem a mesma opinião em relação ao comportamento da moeda americana no próximo ano. Segundo ele, independente de uma estabilização futura, o dólar continuará influenciando negativamente os custos da atividade. “Mesmo estando a maior parte dos insumos do setor vinculados a produtos importados, começando pelo material genético, passando pelos microingredientes das rações e incluindo boa parte dos produtos veterinários, sua variação de preços ainda não foi inteiramente repassada a esses produtos, o que deve acontecer no decorrer de 2003”, prevê. “Isso pode tornar ainda mais difícil o desempenho de toda a avicultura porque, em suma, excetuada a pequena parcela da produção exportada, ou seja, 20% do volume total de carne de frango, o grosso da produção brasileira, com custos baseados no dólar, é direcionada para um consumidor que é remunerado em reais”, completa.

Exportações – As exportações brasileiras de pintos de corte e de ovos férteis declinaram em 2002. Embora não seja um grande fornecedor internacional (os volumes enviados são incipientes frente à produção nacional, representando menos de 1% do que se produz anualmente), as exportações registraram queda pelo segundo ano consecutivo. As exportações brasileiras estão direcionadas basicamente para países latino-americanos, principalmente os do Mercosul.

Mesmo não havendo dados oficiais específicos sobre essas exportações, os levantamentos da Apinco demonstram que em 2000 os produtores brasileiros exportaram cerca de oito milhões de pintos de corte, número correspondente a 0,25% do volume produzido naquele ano. Em 2001, com o setor tendo que atender o mercado interno extremamente demandado em virtude do aumento da participação da carne de frango brasileira no mercado internacional, as exportações recuaram 28%, caindo para menos de seis milhões. Já em 2002, a queda nas exportações de pintos vem sendo ainda maior. Até o mês de setembro as exportações não chegaram a dois milhões de cabeças (0,07% da produção nacional). De acordo com a Apinco, o recuo das exportações verificada em 2002 é o reflexo direto da paralisação das compras pela Argentina, principal cliente dos produtores de pintos de corte brasileiros.

Qualidade – Mesmo que as remessas brasileiras sejam pouco significativas, não se pode deixar de destacar que há no setor um grande potencial, ainda inexplorado, para as exportações de ovos férteis.

Produção Brasileira de Pintos de Corte 2001 E 2002 – Milhôes de cabeças
MÊS 2001 2002 VAR. %
JAN 284,9 307,6 7,97
FEV 261,7 285,2 8,98
MAR 277,4 317,4 14,42
ABR 269,0 314,2 16,80
MAI 285,0 326,6 14,60
JUN 280,7 312,5 11,33
JUL 295,8 331,8 12,17
AGO 310,2 327,7 5,64
SET 296,7 319,4 7,65
OUT 314,1 333,8* 6,27
NOV 295,6 310,0* 4,87
DEZ 302,3 315,0* 4,20
Total 3.473,6 3.801,2* 9,43

Fonte: Levantamento APINCO
(*) Previsão

Ao se tornar o segundo maior produtor mundial de carne de frango, o Brasil teve que primeiro se tornar o segundo maior produtor mundial de ovos férteis. Ou seja, o País detém uma alta produção (cerca de 4,5 bilhões de unidades/ano) que pode ser ampliada rapidamente e o mais importante: detém uma qualidade reconhecida internacionalmente. “Perseguidas por vários produtores, as exportações brasileiras de ovos férteis só não deslancharam até aqui por questões de logística e de instabilidade econômica internacional”, afirma Mohallen. “Como o produto é frágil requer transporte aéreo especializado, nem sempre disponível com a precisão que uma exportação do gênero necessita. Além disso, os grandes interessados no produto brasileiro, basicamente avicultores das Américas do Sul e Central e da África, sofrem mais diretamente as turbulências da economia mundial, o que dificulta a realização de negociações de longo prazo”, completa. Mohallen explica ainda que no caso de ovos férteis, as negociações de longo prazo são fundamentais pois, uma vez alojada, a reprodutora que vai responder pelo atendimento da encomenda futura,é impossível interromper o processo no meio do caminho sem que isso reverta em total prejuízo para o produtor.

Cenário 2003 – A Apinco se mostra otimista em relação ao desempenho do setor no próximo ano. Segundo Mohallen, o segmento produtor de pintos de corte está plenamente preparado para atender as necessidades internas e externas de produção da carne de frango. “A evolução do alojamento de matrizes de corte em 2002, até setembro, havia aumentado 9%, isso significa que havendo demanda é possível aumentar a oferta de pintos também em 9%”, avalia.

Alojamento de Matrizes de Corte em 2002 – Milhões de cabeças
MÊS VOLUME VAR. % ANO
JAN 2,703 14,40
FEV 2,356 16,34
MAR 2,506 9,73
ABR 2,593 14,47
MAI 2,470 5,84
JUN 2,294 2,10
JUL 2,689 10,49
AGO 2,580 0,01
SET 2,662 9,91
SUB-TOTAL 22,853 9,07

Fonte: UBA

Assim, segundo ele, os possíveis empecilhos não dizem respeito à capacidade de produção, mas às condições de produção, fundamentalmente disponibilidade de matérias-primas e custos e à capacidade do consumidor brasileiro em absorver os novos custos, doravante em novos patamares. “Com a introdução do Plano Real e a posterior propaganda feita pelo próprio Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, o consumidor acostumou-se ao “frango de R$ 1,00″, limitando o repasse de custos enfrentados pelo setor nos últimos oito anos”, analisa. “Agora, com a dolarização do milho e o brutal aumento dos demais custos, não há como limitar esse repasse. Ou o consumidor absorve as novas margens ou a produção avícola corre o risco de despencar”, afirma.

Para Mohallen o comportamento de toda a avicultura em 2003 vai estar atrelado ao comportamento do consumidor, exceto pelas exportações que devem continuar tendo evolução positiva. “Mas as exportações representam apenas 20% da produção brasileira de carne de frango”, alerta.

Novo governo – As expectativas do setor quanto às ações do novo governo são positivas. “Sem dúvida, com a declaração de sua primeira grande meta, o Presidente eleito rompeu os cânones tradicionais, ou seja, não a economia, inflação, produção, balança comercial, emprego, saúde ou segurança e, sim, ao combate à fome. Meta que, de certa forma, embute todas as demais, pois não se combate a fome sem a estabilidade da economia, o controle da inflação, o estímulo à produção, a geração de superávits comerciais etc.”, comenta Mohallen. Segundo ele, ao eleger o combate à fome com sua principal prioridade o novo governo sinaliza que o setor avícola poderá receber a atenção necessária nos próximos quatro anos. A eleição de tal meta, em sua opinião, deve ser considerada auspiciosa para a avicultura. “A adoção de tal medida pressupõe que a produção de frangos e ovos merecerá atenção e deve receber estímulos com que nunca contou”, afirma Mohallen. “Inclusive porque, mostram as infinitas biografias traçadas em torno de Luiz Inácio Lula da Silva, frango e ovo estão entre os pratos preferidos do cardápio do presidente eleito”.

Produção Brasileira de Pintos de Corte nos Tempos do Real 1994 a 2003 – Bilhões/cab.
ANO VOLUME VAR. %
1994 2,324 9,99
1995 2,537 9,18
1996 2,593 2,20
1997 2,864 10,44
1998 2,858 (0,18)
1999 3,153 10,31
2000 3,254 3,19
2001 3,473 6,74
2002 3,801 9,43
2003* 4.040 6,35

Fonte: APINCO
(*) Projeção baseada no crescimento médio anual do período 1994/2002 (6,35% ao ano). Mas quem vai determinar a efetiva produção do setor é o comportamento do mercado do frango, interno e externo.

O setor espera ainda do novo governo a resolução de velhas questões como a realização da tão propagada reforma tributária e a consequente desoneração dos alimentos considerados básicos para a população, além de uma política agrícola mais adequada às necessidades do País, especialmente no que se refere à produção de milho. Na opinião de Mohallen, a produção de milho necessita de uma política diferenciada, uma vez que o novo governo pretende não só combater a fome da população como também manter o País como grande exportador de carnes. “Os setores avícola e suinícola são grandes consumidores do milho nacional, que também tem importância direta na alimentação da população, vindo logo atrás do arroz e feijão”, afirma. “No entanto, a produção do milho no Brasil permanece inteiramente ao sabor do mercado, que não considera a essencialidade do produto, apenas o retorno financeiro proporcionado. Isso faz com que, por exemplo, a produção prevista para 2003 esteja situada nos mesmos níveis da registrada em 1997, enquanto nesse mesmo período, a produção de soja deve aumentar mais de 80%”, conclui.

Para Mohallen, a continuidade dessa situação tende a gerar um impasse: vai limitar a produção de carnes e ovos, prejudicando não só o abastecimento interno, mas também a perseguida evolução das exportações. “Esse é um problema que precisa ser encarado frontalmente. E que merece uma política diferenciada de toda a política agrícola”, analisa. De acordo com ele, é igualmente indispensável que o País passe a dispor de uma política de formação de estoques reguladores. “O máximo que todos os governos brasileiros realizaram até aqui foi a aquisição de produtos agrícolas sujeitos a problemas de mercado, como por exemplo preços inferiores ao mínimo oficial, e isso não corresponde a uma política de estocagem mas, apenas, a uma atuação emergencial”, avalia Mohallen.

Segundo ele, a existência de estoques reguladores de alimentos essenciais, como arroz, feijão, milho, é de fundamental importância para o País, não para a regulagem de mercado, mas para atender situações de emergência como a que vem sendo observada neste ano com o milho. “O produto interno é escasso e insuficiente até a chegada da próxima safra e as importações estão praticamente proibidas, seja pelo alto custo, seja pela dificuldade de obtenção no mercado internacional de produto não-geneticamente modificado”, explica. “Aliás, as dificuldades no abastecimento de milho podem conduzir toda a avicultura a um impasse mais sério ainda neste final de 2002. Esse risco inexistiria se o Brasil contasse com estoques reguladores”, conclui.