Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Manejo

Fertirrigação com dejetos de suínos amplia produtividade do milho em MS

Apenas líquido tratado com nitrogênio, potássio e fósforo vai para lavoura. No tratamento é queimado o gás metano dos dejetos suínos.

Dejetos de suínos tratados em biodigestores estão sendo utilizados na fertirrigação das lavouras de milho em São Gabriel do Oeste, na região norte de Mato Grosso do Sul, a 133 quilômetros de Campo Grande. A prática, segundo os produtores tem aumentado a produtividade da cultura.

Da estrada, a caminho de fazenda, já foi possível ver o carretel que esguichava o fertilizante produzido à base de dejetos suínos. Produtores rurais encontraram na integração de culturas, o caminho para aumentar a rentabilidade. Próximo dali, na fazenda Água Clara, o produtor Carlos, há pouco mais de um ano, conseguiu aumentar os lucros se dedicando a suinocultura e a criação de boi. Ele já entregou aos frigoríficos cerca de oito caminhões de animais só esse ano.

Nem é preciso ir tão longe para saber como ele vem trabalhando essas duas criações de maneira integrada. Ao lado dos galpões de suínos, o biodigestor capta os dejetos da granja e transforma tudo em biofertilizante para pastagem. O processo de produção é ecologicamente correto, porque queima o gás metano dos dejetos, um gás 21 vezes mais poluente que o gás carbônico. A lagoa de matéria orgânica fica completamente cheia, e antes que transborde, o produto é transferido para outra lagoa, que através de mangueiras leva o produto já filtrado até alguns hidrantes espalhados no pasto.

O carrinho de irrigação joga apenas o líquido tratado, que contém elementos essenciais para a planta, entre eles o nitrogênio, potássio e fósforo. A espécie de capim mombaça surpreendeu em produtividade, e hoje, a locação do gado nos piquetes é bem melhor aproveitada, dez cabeças por hectare. O engenheiro agrônomo da fazenda explica que o produto final do biodigestor, borrifado no pasto, tem vantagens que só a adubação química não traria para a gramínea.

As vantagens da substituição dos adubos químicos pela fertirrigação renderam uma economia de cerca de R$1,1 mil por hectare de pastagem ao ano. Nos oito piquetes, de cinco hectares cada, a redução de custo chega a mais de R$ 40 mil e o reaproveitamento dos dejetos não traz custo ao produtor, a não ser o investimento inicial do processo, que em pouco tempo é amortizado.

Com rentabilidade comprovada na pastagem com o uso da fertirrigacação, alguns pequenos produtores de milho da região de São Gabriel do Oeste também estão utilizando essa ferramenta sustentável.

Depois do aumento de produtividade na pecuária de corte da fazenda Água Clara em São Gabriel do Oeste, é hora de ver como a fertirrigação, feita com os dejetos que saem das granjas de suínos, pode ajudar também a vida dos agricultores.

Depois de uma viagem de 50 quilômetros se chega ao assentamento Campanário. O pequeno produtor que também trabalha de maneira integrada com a criação de porcos e lavoura de milho, diz ter encontrado o maior benefício na agricultura familiar.

“Um aproveitamento de 100% . Eu fiz ele sem adubo químico, 100% dejeto. Não tem herbicida, inseticida, não fiz nada, simplesmente joguei a semente e tá ai”, relata o produtor rural Valderi Valentini.

Seu Valderi fez uma experiência com a fertirrigação em uma área de seis hectares. Toda essa cultura cresceu apenas com o uso do biofertilizante. O desenvolvimento da planta foi mais rápido, mais sadio e o que se percebeu nesse área é que não houve pragas. A plantação também não sentiu com a falta de água, a prova concreta disso tudo é a quantidade e a qualidade das espigas, uma safra certeira.

O produtor mostra onde o carrinho de fertirrigação não alcançou na lavoura e a diferença da planta fertirrigada, da que não recebeu a adubação, é visível.

“Você pode ver que a formação de grãos nela não existe, a espiga é pequena , o enchimento da ponta não ocorreu e, aonde alcançou, você vê que é uma espiga sadia”, diz.

Nas áreas que receberam a fertirrigação, seu Valderi deve colher cerca 172 sacas do milho, sem a integração com a suinocultura para alavancar a produtividade do grão, ele colheria em media 60 sacas por hectare. Para aumentar esse número, a única saída seria investimento em adubo químico, o que sairia bem mais caro que esse reaproveitamento usado hoje.

“E para pequena propriedade, que é o prato predileto dos assentamentos, é muito viável esse sistema, nós temos um investimento muito baixo. Entramos com toda a instalação, e ele não tem custo nenhum na instalação dos biodigestores, e tem um lucro extraordinário. Agora o que ele tem de fazer é produzir o dejeto suíno e mandar para o biodigestor e consequentemente aproveitar toda essa riqueza que seria a cogeração de energia, a fertirrigação, possibilitando o aproveitamento nas culturas de feijão, milho, capim e muitas outras atividades dentro da propriedade”, conta o técnico em agropecuária Afonso Rosalém.

No assentamento, Valderi trabalha com o irmão e os sobrinhos, uma pequena parte da colheita está sendo destinada para a produção de silagem. A intenção é que todo o resto seja comercializado no mercado. Uma outra parte da colheita já esta recendo o adubo orgânico, agora o próximo passo no assentamento Campanário é fertirrigar as outras áreas do milho (40 hectares).

“É lucro certo, vou continuar fazendo. Nós pensamos em fazer um, vamos jogar os dejetos no outro, assim que entrar na fase de processamento, agente planta o outro, fazendo essa rotação nos 40 hectares”, finaliza o produtor.