Redação (16/04/07) – Pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estão desenvolvendo estudos, com bons resultados, para transformar o lodo de esgoto em adubo voltado para a produção agrícola.
Jorge Lemainski observa plantação adubada com lodo de esgoto em Brasília |
Até então, este “produto” não possuía qualquer utilidade para a maioria das localidades que o produz. Em muito casos, torna-se um estorvo à medida que as empresas de saneamento básico precisam se virar para dar-lhe destinação adequada. Mas, segundo a Embrapa, tal problema pode estar perto do fim.
“O lodo, definido como o conjunto de resíduos do tratamento de esgoto, rico em nutrientes e em matéria orgânica, pode ser aplicado na agricultura como fertilizante”, anuncia Jorge Lemainski, engenheiro agrônomo da Embrapa que desenvolve pesquisas nessa área.
Em geral, de cada 10 mil litros de efluentes que entram nas estações de tratamento, um litro é composto de material orgânico, que, após o processamento, gera uma pasta – o lodo – que pode substituir parcial ou totalmente o adubo químico.
A Embrapa atua na investigação científica de aplicações de tais resíduos para a agricultura desde 1994, relata Lemainski. “Os resultados obtidos são excelentes, sobretudo em relação às culturas de soja e milho, mas dá para usar também em reflorestamento, fruteiras e gramíneas”, afirma.
O agrônomo ressalta que o trabalho não é inédito, mas que, no país, ainda é incipiente. “Está no começo pois o tratamento de esgoto [no Brasil] é muito pequeno”.
Segundo Lemainski, dos 5.564 municípios brasileiros, apenas 1.079 (108 milhões de habitantes) têm serviço de coleta de esgoto. “E de todo o esgoto coletado, somente 28% são tratados. Os 72% restantes são lançados nos rios”, comenta.
Além de ecológico, o uso do lodo no campo traz retorno financeiro ao produtor. “Ainda que não trouxesse vantagem, já seria bom pela redução do impacto ambiental”, defende.
Vantagens
* Aproveitamento
Recupera e reintegra na cadeia produtiva os nutrientes do lodo
* Sem custo adicional
Não gera custos adicionais de gestão no manejo do lodo como ocorre na incineração e em aterros sanitários
* Ganho de produtividade
Substitui fertilizantes minerais com ganho econômico e de produtividade
* Ecológico
Previne os impactos ambientais decorrentes da queima do lodo na incineração e na concentração de nutrientes em aterros sanitários
* Seguro
Os riscos do lodo para o ambiente e à saúde humana são evitados pela aplicação correta da tecnologia e com equipamentos de proteção
* Sem e com tratamento
Mais de 10 bilhões de litros de esgoto sem tratamento são jogados nos rios brasileiros por dia; em Brasília, onde há tratamento, a produção de lodo atinge 400 toneladas/dia, o que permite fertilizar 5 mil hectares/ano
Retorno financeiro é bastante positivo
Para mostrar que há vantagem financeira, Jorge Lemainski explica que, para cada real de adubo químico investido na cultura de milho, o retorno financeiro é de R$ 0,48. Por outro lado, para cada real de lodo, o ganho será praticamente dobrado, de aproximadamente R$ 0,90.
Os números ficam mais fortes quando se considera que, em geral, são consumidos R$ 800 de fertilizante por hectare nessa cultura.
Sem tratamento, Bauru joga 1,2 mil litros de dejetos por segundo nos rios
Bauru integra a triste lista de cidades que não têm tratamento de esgoto. Portanto, é um dos mais de 4 mil municípios que despejam os resíduos diretamente nos rios.
De acordo com o presidente do DAE (Departamento de Água e Esgoto), José Clemente Rezende, Bauru produz 1,2 mil litros de esgoto por segundo.
Pelo cronograma em andamento, colocado em prática pela gestão do prefeito Tuga Angerami (sem partido), o tratamento de esgoto de Bauru somente ocorrerá na totalidade em 2013. O prazo leva em conta que as obras serão feitas apenas com recursos do município, cerca de R$ 70 milhões.
“No entanto, pode haver antecipação se a União ou o Estado injetarem verbas no projeto”, avalia Rezende.
Ele considera importantes as pesquisas que visam dar destinação ao lodo de esgoto. “Podemos até utilizá-lo se os resultados dos estudos forem positivos”, diz.